Sociedade

Praxes solidárias ganham expressão em Portugal

Fugindo ao estigma de violência e à polémica muitas vezes associadas às praxes tradicionais, várias instituições portuguesas de ensino superior têm apostado em alternativas solidárias que promovem a cidadania, integrando os caloiros na comunidade.
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Fugindo ao estigma de violência e à polémica a que, normalmente, são associadas muitas das atividades de receção aos caloiros realizadas durante as tradicionais praxes, várias instituições portuguesas de ensino superior têm apostado em alternativas que promovem a cidadania e o apoio a quem mais precisa, fazendo com que as chamadas praxes solidárias comecem a ganhar cada vez mais expressão em Portugal. 
 
Não pode dizer-se que a ideia seja nova: em 2010, por exemplo, os caloiros da Escola Superior Agrária de Bragança organizaram-se em pequenos grupos e angariaram, porta-a-porta, alimentos para os mais carenciados. Esta atividade de receção fora do comum acabou por permitir a recolha de mais de uma tonelada de bens alimentares e o sucesso foi tal que acabou por ser repetida. 
 
No entanto, a verdade é que, no início deste ano letivo, este tipo de iniciativas se tem multiplicado além do habitual. Ainda a semana passada, como o Boas Notícias avançou à data, um grupo de centenas de caloiros e veteranos do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) muniu-se de rolos, trinchas e de 1.500 litros de tinta para pintar quatro edifícios degradados do bairro da Ajuda, em plena capital portuguesa. Desde então têm vindo a público outras ações do género, que têm sido aplaudidas pela sociedade e pelos próprios estudantes.
 
Caloiros do IPAM melhoram qualidade de centro para sem-abrigo
 
Recentemente, o IPAM – The Marketing School, em Lisboa, convidou os caloiros a darem o seu contributo para melhorar o Centro de Apoio ao Sem-Abrigo (CASA), em Sete Rios. Deixando para trás as flexões, as caras pintadas e as músicas cantadas a plenos pulmões, muitas vezes regadas com copos de cerveja, cerca de 30 estudantes que agora ingressaram no instituto deslocaram-se ao centro para ajudar a modernizar o seu novo espaço.
 
Durante a praxe, o grupo construiu prateleiras e armários para roupas e alimentos, organizou o inventário e arrumou, depois, todos os bens nos lugares reservados para o efeito. À noite, alunos de todos os anos da instituição – e não apenas caloiros – participaram na distribuição de uma refeição quente, pão e fruta a cerca de duas centenas de sem-abrigo.
 
De trocas de livros a material escolar para os mais carenciados
 
Já a Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico (IST) optou por outro tipo de iniciativa solidária: em parceria com o restaurante vegetariano Bem-Me-Quer, os alunos decidiram promover uma troca de livros escolares descontinuados e agora, as sobras, vão ser entregues ao Banco Alimentar Contra a Fome, no dia 2 de Outubro. 
 
Em declarações ao Boas Notícias, Paula Cascais, responsável do Bem-Me-Quer, disse que o objetivo desta praxe “diferente e divertida” é “mostrar que as atividades de receção aos caloiros também podem ter um cariz solidário e ser um exemplo de consciência social”.
 
“A adesão ao nosso banco de manuais escolares superou todas as expectativas, tanto da parte da oferta como da procura, e no final ficámos com 6 toneladas de livros que não foram aproveitados e que vamos doar à campanha de recolha de papel do Banco Alimentar”, explicou a responsável.
 
A Comissão de Praxe da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, por seu lado, organizou, no passado dia 26, a sua própria praxe alternativa, levando cerca de 50 alunos a separar e embalar mais de 1.500 kits de material escolar recebidos recentemente pela instituição de solidariedade social Entrajuda e que, depois, vão ser distribuídos a crianças carenciadas.
 
Segundo os promotores, o objetivo fundamental deste dia diferente, que vai decorrer entre as 13.00h e as 18.00h no Banco Alimentar, em Alcântara, é “criar valor social e ajudar pessoas carenciadas, envolvendo alunos do 1º ano do curso”.
 
Estudantes acolhem iniciativas com agrado
 
Para muitos dos alunos envolvidos nestas ações – alguns dos quais pouco apologistas da praxe tradicional e outros apenas interessados em aproveitar a ocasião para dar um contributo a quem os rodeia -, a possibilidade de passar por uma praxe fora do comum por boas causas tem sido recebida com grande entusiasmo.
 
A propósito da reabilitação dos edifícios na Ajuda, Marcelo Fonseca, de 22 anos, presidente da Associação de Estudantes do ISCSP, salientou que este tipo de atividades surge num momento em que “as praxes estavam a tornar-se demasiado iguais, se calhar demasiado violentas”. 
 
A opinião é partilhada pelos membros das associações de estudantes e comissões de praxe das outras universidades envolvidas nas atividades de receção solidárias aos novos estudantes.

Em 2010, Rui Sousa, líder da Associação Académica do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), na qual se integra a Escola Superior Agrária de Bragança, uma das primeiras a enveredar por este caminho, defendia já que, deste modo, é possível “desvincular a praxe do rótulo da noite e da bebedeira a que está associada e integrando os caloiros na comunidade”.

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