Literatura

O segredo para uma sociedade mais feliz e produtiva

No novo livro "A Vida que mereces", os espanhóis Pascual Olmos e Alex Rovira deixam um novo modelo de gestão que já foi testado com sucesso e que oferece uma economia sustentável em harmonia com o ser humano.
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Cortes salariais, desemprego e austeridade são sintomas de modelos de políticos e financeiros condenados à rutura. No novo livro “A Vida que tu mereces”, os espanhóis Pascual Olmos e Álex Rovira deixam um novo modelo de gestão que já foi testado com sucesso e que oferece uma economia sustentável em harmonia com o ser humano.

Por Patrícia Maia
 

Pascual Olmos (na foto abaixo) é o diretor executivo da área comercial da Repsol, em Espanha. Desde que entrou para a empresa ajudou a implementar pequenas mudanças no modelo de gestão que se traduziram em grandes melhorias: em apenas oito anos o grau de satisfação laboral dos seus trabalhadores aumentou de 47 para 72 por cento. Uma melhoria que se refletiu, também, nos resultados financeiros da empresa.

O “segredo” deste sucesso passa por praticar uma “competitividade sustentável” que em vez de “apostar em objetivos económicos de curto prazo promove a motivação das pessoas”, explicou Pascual Olmos em entrevista ao Boas Notícias, quando esteve, a semana passada, em Lisboa, para o lançamento oficial do livro “A vida que mereces” (Esfera dos Livros), que escreveu em conjunto com o empreendedor Álex Rovira.
 
Segundo o autor, a crise que se vive hoje no mundo ocidental e que trouxe sucessivas medidas de austeridade, gerando uma sociedade cada vez mais precária, começou há muito tempo. “Chamamos-lhe uma crise económica, mas é uma crise mais antiga e profunda, uma crise de valores, de comportamentos e de justiça”, afirma. 

“Consenso mundial contra a transparência”

Pascual considera que o mais recente relatório da Oxfam onde se revela que toda a riqueza do mundo está nas mãos de apenas 1 por cento da população é o reflexo deste sistema capitalista cíclico onde “a prioridade é a especulação financeira e o lucro a curto prazo”. “Este sistema é resultado da concentração dos poderes políticos e financeiros e destrói o equilíbrio social”, salienta.

“A democracia social está muito prostituída porque as elites financeiras e políticas controlam parte da riqueza, suportadas por paraísos fiscais e por uma corrupção que não é penalizada. Além disso, há muitas maneiras ‘legais’ de promover comportamentos imorais que perpetuam este sistema como se houvesse um consenso mundial contra a transparência”, denuncia Pascual Olmos.

O autor explica que este sistema levou a um acentuado crescimento económico na maior parte dos países ocidentais: por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA e da Inglaterra duplicou em 20 anos. No entanto, diz Pascual Olmos, “a Felicidade Interna Bruta (FIB) destes países diminuiu inversamente aos resultados financeiros”. 

“Isso demonstra que algo está a falhar tremendamente”, sublinha: “A crise atual veio apenas um corroborar que o sistema não está a funcionar e não é sustentável porque não respeita a natureza humana”. 

Uma quarta via contra o retrocesso civilizacional 

Para os autores de “A vida que mereces”, os novos meios de comunicação, como a internet, “podem ajudar a combater esta falta de transparência, como já foi demonstrado pelo WikiLeaks”.

“Diz-se que quem tem a informação detém o poder. A internet, embora possa servir para controlar, também serve para informar e denunciar. É importante que a informação chegue a todos e talvez assim se assista a novas formas de poder mais transparentes”. 


No livro, Álex Rovira (na foto ao lado) e Pascual Olmos defendem uma via alternativa aos sistemas históricos que vigoraram até agora: o marxismo, o capitalismo liberal e a social-democracia: “É uma quarta via que batizamos de Eco-Ser e que tem por objetivo promover uma economia competitiva que preserva o equilíbrio social e ambiental”.

Esta via, explica, opõe-se à maximização do lucro através de salários mais baixos e aumentos de horas de trabalho, medidas que têm sido seguidas por vários governos como forma de combate à chamada “crise”. “Estas não são soluções para gerar riqueza”, garante Pascual Olmos, trata-se, isso sim, de um retrocesso civilizacional”. 

Trabalho com qualidade, motivação e criatividade

Embora o livro “A vida que mereces” seja dirigido às pessoas, grande parte do livro é dedicado à gestão de empresas porque “as empresas são uma parte fundamental da sociedade”, salienta Olmos. Nesses capítulos, os autores defendem que apostar numa maior qualidade do trabalho e promover a criatividade intrínseca de cada funcionário são elementos chave do sucesso de qualquer empresa.
 
Esses objetivos alcançam-se através de medidas simples como, por exemplo: a promoção do teletrabalho para obter uma maior harmonia entre a família e o cumprimento de objetivos profissionais, promover a mobilidade de posto para que as pessoas possam aprender novas competências, a medição e o reconhecimento (ou não) do valor de cada trabalhador, a implementação de medidas que reduzam a pegada ecológica das empresas e dos sistemas de produção.

A aposta no voluntariado empresarial e na integração de pessoas com necessidades especiais são também pontos importantes sublinhados no livro. O departamento da Repsol com 11 mil trabalhadores, que Pascual Olmos dirige, integra 400 pessoas com deficiência. “Isto é o dobro do que é legalmente exigido por lei em Espanha”, explica.

Estas medidas de competitividade sustentável sistematizadas pelos autores no Modelo de Gestão de Valor Acrescentado (MGxVA) são cruciais, diz Olmos: “representam uma aposta na inovação social que aumenta a criatividade e a produtividade”, porque um “trabalhador mais criativo e feliz torna-se mais produtivo”. 

Aprender com os outros

Pascual Olmos aprendeu com o judo, uma modalidade que pratica há mais de 15 anos, grande parte das lições que partilha neste livro. Uma das mais importantes está relacionada com o ego. Segundo o autor, “o ego tem sido o grande motor dos modelos da sociedade ocidental mas este ego não tem limites”. 


No judo, mais do que competir e derrotar os adversários, é importante aprender com os outros. O autor resume esta filosofia que pode ser aplicada na vida de cada um de nós, das empresas e das sociedades citando uma frase de Shantideva (um monge budista do século VII): “Todos aqueles que são infelizes são-no porque procuram a sua própria felicidade. Aqueles que são felizes são-no porque procuram a felicidade dos outros”.

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