Ciência

“Mile passuum” ou a milha romana

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[António Piedade é Comunicador de Ciência e Investigador do Centro de Física Computacional da Universidade de Coimbra e publica mensalmente uma crónica no Boas Noticias]

Image and video hosting by TinyPic Na semana em que se anuncia novas descobertas romanas na cidade de Chaves, vamos recuar um pouco no tempo para falar na milha romana. Qual a distância que um Centurião romano percorria ao fim de mil passos dados? Quanto é que uma milha romana equivale em metros?

Não sabemos ao certo! É que o metro é uma medida padrão e o nosso bom senso “diz-nos” que uma passada de um Centurião deveria variar consoante a altura das suas pernas e até da propulsão dada pelo avanço de cada perna.

De facto, os mile passuum (mil passos) deste militar romano percorreriam uma distância que lhe era característica. Até porque os mil passos a que refere a milha romana não eram os de um só homem, o Centurião, a marchar, mas do conjunto de cem soldados (a centúria), que ele comandava e que marchavam atrás dele. A propósito, acrescente-se que uma centúria era uma formação militar constituída por 10 filas de 10 soldados formando um quadrado.

Este quadrado militar avança então em ritmo de marcha e comandada pelo Centurião que marca o compasso. De certa forma, a distância percorrida dependia da velocidade da marcha, do ritmo do passo. O que sugere que uma milha romana não só indicava uma distância percorrida após mil passos mas também o intervalo de tempo necessário para os cumprir.

Este raciocínio transporta-nos para a ideia de que uma milha romana seria, na realidade útil, mais a medida da velocidade do Centurião a marchar, do que só uma medida de uma distância. Ao dizer que precisavam de marchar, por exemplo, 10 milhas, o Centurião não só indicava a distância a que se encontrava de um eventual alvo, mas também o tempo que demoraria a conduzir os seus cem soldados até ele.

Mas voltemos à questão da conversão possível para o “nosso” metro padrão. Até para podermos precisar a variabilidade da milha romana. Isto é relevante também para a importância do erro quando aplicado a escalas com grandezas diferentes. Vamos a seguir concretizar este problema.

Uma passada em marcha de três Centuriões diferentes poderia diferir em poucos centímetros. Suponhamos uma diferença média de 15 centímetros entre as passadas de cada um dos centuriões. Esta diferença pode não parecer muito crítica numa única passada, por exemplo de 1,5 metros: 10 % de variação média.

Mas essa diferença de 15 centímetros seria suficiente para que os 3 centuriões percorressem distâncias substancialmente diferentes ao fim dos seus mil passos, se marchassem com uma velocidade igual: 1350 metros, 1500 metros e 1650 metros!

Noutra perspectiva, para que percorressem a mesma distância depois de mil passos, os três centuriões no exemplo anterior teriam de marchar a velocidades diferentes. Ou seja, gastariam períodos de tempo diferentes para percorrer uma milha romana.

Mas a história deixou-nos registos sobre a diferença entre a marcha dos Centuriões.

De facto, há indicações históricas que balizam a milha romana entre os 1481 e os 1580 metros. Ou seja, 99 metros de diferença! Outro dado arqueológico que se encontra hoje no Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra, mostra que quatro milhas romanas são iguais a 5920 metros. Segundo esta prova arqueológica, baseada na distância de um marco viário, com a indicação “IIII” e encontrado àquela distância métrica de Aeminum (designação romana para a povoação que deu origem a Coimbra), uma milha romana equivale a 1480 metros.

Uma outra fonte indica-nos que uma milha romana equivalia a 5000 pés romanos. Isto garante-nos, pelo menos os pés dos inúmeros Centuriões romanos não tinham todos o mesmo tamanho!

E a milha americana? Isso é uma outra história, também imperial, mas inglesa.

 

António Piedade

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