Saúde

Investigação lusa descobre bactéria que evita malária

Uma simples bactéria do estômago, a famosa E. coli, é capaz de gerar anticorpos que matam o parasita da malária, evitando o desenvolvimento da doença. A equipa do Instituto Gulbenkian de Ciência já está a testar uma vacina que reforça esta bactéria.
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Uma simples bactéria presente no estômago humano, a famosa E. coli, é capaz de gerar anticorpos que matam o parasita da malária, evitando a contaminação sanguínea e o desenvolvimento da doença. A equipa do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) já está a testar uma vacina que reforça a ação desta bactéria e dos respetivos anticorpos.

Já se conhecem os benefícios que determinadas bactérias do intestino têm para o organismo, reforçando por exemplo os níveis de anticorpos naturais. Agora, uma investigação do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), vem demonstrar que estas bactérias, mais concretamente uma estirpe da bactéria E. coli, é capaz de combater o parasita Plasmodium, responsável pela malária.

 
Bahtiyar Yilmaz, aluno do programa de Doutoramento do IGC no laboratório de Miguel Soares, descobriu que o parasita expressa uma molécula de açúcar chamada α-gal (alfa-gal). 
 

Através de experiências realizadas em ratos, o investigador descobriu que a E. coli consegue induzir a produção de anticorpos naturais anti-α-gal. Bahtiyar percebeu que estes anticorpos ligam-se ao α-gal na superfície do parasita imediatamente após a sua inoculação na pele pelo mosquito que transmite a malária. 


Quando isto ocorre, os anticorpos anti-α-gal ativam um mecanismo adicional do sistema imune – o complemento – que origina pequenos furos no Plasmodium matando o parasita antes deste conseguir sair da pele. 

O efeito protetor é tal que, quando presentes em altos níveis no momento da picada do mosquito, os anticorpos anti-α-gal conseguem impedir que o parasita transite da pele para a corrente sanguínea e, ao fazê-lo, bloqueiam a transmissão da malária.
 
Antes destes estudos, já se sabia que, em zonas endémicas da malaria, apenas uma fração de todos os indivíduos adultos picados pelo mosquito ficam infetados com o parasita Plasmodium. Isto sustenta a teoria que os adultos podem ter um mecanismo natural de defesa contra a transmissão de malária, que contrasta fortemente com o que se observa em crianças com menos de 3 a 5 anos de idade que são muito mais suscetíveis de contrair malária. 

Quando indivíduos de uma zona endémica de malária no Mali foram analisados, a equipa liderada por Miguel Soares estabeleceu que os indivíduos que apresentam níveis mais baixos de anticorpos anti-α-gal em circulação são também os mais suscetíveis à malária. Já os indivíduos com níveis mais altos de anticorpos anti-α-gal em circulação são menos suscetíveis de ficarem infetados e desenvolverem malária. 

Os investigadores concluíram que a razão pela qual as crianças mais pequenas são tão suscetíveis a contrair malária prende-se provavelmente com o facto de ainda não terem gerado suficientes anticorpos naturais direcionados contra a molécula de açúcar α-gal.

Investigadores estão a desenvolver vacina
 
Para ultrapassar esta lacuna, Bahtiyar Yilmaz desenvolveu uma vacina, já testada em ratinhos, relativamente fácil de produzir e económica, que produz elevados níveis de anticorpos anti-α-gal altamente protetores contra a transmissão de malária por mosquitos. 

“Observámos que crianças com menos de 3 anos de idade não têm níveis suficientes de anticorpos anti-α-gal, o que pode ser uma das razões para a sua maior suscetibilidade à malária. Uma das maravilhas do mecanismo protetor que descobrimos é que pode ser induzido através de um protocolo de vacinação, levando à produção de elevados níveis de anticorpos anti-α-gal que se podem ligar e matar o parasita Plasmodium. Se pudermos vacinar estas crianças de tenra idade contra α-gal, muitas vidas podem ser salvas”, diz Miguel Soares, num comunicado oficial da instituição.

Estima-se que 3,4 mil milhões de pessoas estejam, hoje em dia, em risco de contrair malária e os dados da Organização Mundial de Saúde de 2012 indicam que cerca de 460.000 crianças africanas morreram antes de completarem cinco anos, por causa da doença. 

A investigação nos países endémicos da doença contou com a colaboração de uma equipa do National Institute of Allergy and Infectious Diseases (Maryland, EUA) e da University of Sciences, Techniques and Technologies of Bamako (Bamako, Mali).

Notícia sugerida por Elsa Martins, António Resende e Maria Manuela Mendes

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