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Ciência no feminino: Elas revolucionaram o mundo

Fazer ciência foi, durante décadas, difícil de conjugar no feminino. Os números indicam que em 108 anos, apenas 40 mulheres receberam o Nobel. A história das mulheres na ciência é assim uma história de talento não reconhecido.
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Fazer ciência foi, durante décadas, difícil de conjugar no feminino. Os números indicam que em 108 anos, apenas 40 mulheres receberam o Nobel. A história das mulheres na ciência é assim, salvo raras exceções, uma história de talento não reconhecido, preconceitos e circunstâncias trágicas.

Em muitos casos, o trabalho pioneiro não era reconhecido, tinha de ser atribuído a um colega homem, ou ficava na sombra de um companheiro para que fosse aceite pela comunidade. Para muitas o reconhecimento viria apenas anos ou décadas depois.

Apesar destas contrariedades foram inúmeras as mulheres cientistas verdadeiramente brilhantes e que conseguiram mudar as nossas vidas e a forma como vemos o mundo. A Science Library elegeu algumas, e o Boas Notícias acrescentou outras.

Hypatia (370-41) nasceu na cidade de Alexandria, no Egito, e terá sido a primeira mulher matemática, astrónoma e filósofa que no auge do seu trabalho liderou e ensinou na Escola Neoplatónica de Alexandria, juntamente com o pai. A ela são-lhe atribuídos trabalhos pioneiros como a cartografia de corpos celestes, a invenção do hidrometro e outros feitos. Foi assassinada em praça pública, por uma multidão de cristãos enfurecidos numa época em que o paganismo era a contracorrente. Hoje Hypatia, ou Hipátia, tem o seu nome na história como uma das primeiras mulheres cientistas da história.

Barbara McClintock (1902-1992) nasceu nos EUA e foi uma das primeiras geneticistas, muito à frente no seu tempo. Licenciada em botânica, dedicou-se a estudar como os cromossomas se alteram durante o processo de reprodução. Foi durante esta pesquisa que descobriu que os genes se alteram entre os cromossomas, o que levou a outras importantes pesquisas. Contudo, o seu trabalho foi recebido com muito ceticismo e só através de muito esforço e trabalho viu, 30 anos mais tarde, o seu trabalho ser galardoado com o Prémio Nobel em 1983.

Marie Curie (1867-1934) foi uma das cientistas mais notáveis de sempre. Venceu dois prémios Nobel (feito inédito até então) e tornou-se numa das primeiras mulheres a lecionar na Sorbonne, em Paris. Juntamente com o marido Pierre Curie, descobriram dois novos elementos químicos: o polónio e o rádio. Foi pioneira na investigação do processo de isolamento do rádio, abdicando de registar a patente para que outros cientistas pudessem prosseguir os estudos. Morreu com leucemia mas deixou uma importante porta aberta para o uso da radiação usada no tratamento do cancro.

Irene Joliot-Curie (1897-1956) viveu a sua vida seguindo o exemplo da mãe, Marie Curie. Em 1935 venceu ela própria um prémio Nobel da Química por ter, juntamente com o marido Frederic, criado um elemento artificial radioativo. O seu trabalho foi um contributo fundamental para a descoberta da fissão nuclear – usada na energia nuclear e armas atómicas. Lecionou também na Sorbonne e tal como a mãe recebeu inúmeras distinções. E tal como a mãe, morreu com leucemia, provavelmente causada por manipularem este tipo de materiais.

Dorothy Crowfoot Hodgkin (1910-1994) foi uma química britânica que usou a nova técnica dos raios X e da cristalografia para descobrir as estruturas moleculares da penicilina, vitamina B12 e da insulina. Na altura era difícil fotografar estruturas simples e por isso o seu trabalho foi de grande importância para a manipulação de novas variedades de penicilina, insulina e vitamina B12, ajudando a salvar inúmeras vidas. Apesar do seu talento e tenacidade, Dorothy , que estudou e trabalhou na Universidade de Oxford , era impedida de participar nas reuniões de pesquisa do corpo docente por ser mulher. Mais tarde viu o seu talento ser reconhecido com o prémio Nobel em 1964.

Caroline Lucretia Hershel (1750-1848) podia ter tido uma carreira promissora como cantora, mas optou por assistir o irmão William depois de este ter descoberto o planeta Urano e ter sido nomeado pelo Rei George II como Astrónomo da Corte. Caroline juntou-se ao irmão nas pesquisas construindo telescópios e cálculos. Caroline acabou por descobrir três novas nebulosas e oito cometas. Viu o seu trabalho ser reconhecido pelo Rei e pela Corte. Fica na história como a primeira mulher oficialmente reconhecida pela sua posição científica e como profissional da Astronomia. O asteróide Lucretia foi batizado em sua honra.

Rosalind Franklin (1920-1958) foi responsável pela maior parte do trabalho de pesquisa que conduziu à descoberta da estrutura do ADN. Os resultados de cristalografia, obtidos por Rosalind, viriam a ser utilizados, em 1953, por James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins para a proposta do modelo de dupla hélice da estrutura molecular do ADN – feito que acabaria por lhes valer o Prémio Nobel da Fisiologia e da Medicina, atribuído 1962. O reconhecimento de Rosalind foi deixado incógnito, já que não o havia publicado mas hoje é reconhecida pela sua contribuição essencial.

Lise Meitner (1878-1968) lutou para ganhar um lugar no campo da física, completamente dominado por homens nos inícios do século XX. As mulheres cientistas eram-no apenas por curiosidade ou eram desencorajadas a levar a cabo pesquisas. Lisa mudou-se para Berlim para estudar sob a direção de Max Planck. Impedida de trabalhar nos laboratórios juntamente com os colegas masculinos estabeleceu o seu próprio laboratório numa oficina. O seu colaborador Otto Hahn acabou por ganhar o Nobel e o trabalho de Meitner, que descobriu que o urânio se podia dividir com o uso de neutrões e foi a primeira a usar o termo “fissão nuclear”, acabou por ser ignorado. Por ser judia teve de refugiar-se na Suécia devido ao regime nazi e recusou-se colaborar no projeto para a construção da primeira bomba atómica. Fica na história como uma das pioneiras na física nuclear, uma brilhante cientista que superou as barreiras do preconceito numa profissão dominada por homens.  

Ada Lovelace (1815-1852), filha do poeta Lord Byron, nunca conheceu o pai e foi incentivada pela mãe a seguir o interesse pela matemática. Tentou garantir uma posição como analista e na metafísica. Desenvolveu um plano de cálculo de números Bernoulli, em 1843, que foi considerado o primeiro programa de computação, sendo considerada uma visionária no seu tempo. Morreu aos 36 anos de cancro depois de uma vida de excessos ligada ao ópio e ao álcool. Contudo, a sua reputação está hoje reconhecida: o Departamento de Defesa dos EUA deu o nome de Ada a um tipo de linguagem computacional e a sua imagem é ainda usada num holograma da Microsoft.

Jocelyn Bell (1943-) tem um vasto trabalho na descoberta das pulsares, estrelas que colidem e emitem sinais de rádio elevados e que seriam pensados como sinais alienígenas, possibilidade que a própria eliminou, deduzindo que seriam pulsares. Foi uma descoberta notável no campo da astronomia mundial e descobriu inúmeras. Contudo, a controvérsia surgiu quando em 1974 o Nobel da Física foi para os seus supervisores Anthony Hewish e Martin Ryle pela descoberta das pulsares, Muitos defenderam-na que, no mínimo, devia partilhar também do prémio. Mas Jocelyn, hoje com 67 anos, já recebeu inúmeras distinções e é uma das poucas professoras mulheres que ensinam física no Reino Unido.

Mary Leakey (1913-1996) começou o seu percurso escolar a ser expulse inúmeras vezes do convento onde estudava. Encontrou o seu rumo quando visitou com a família grutas pré-históricas e decidiu que se queria dedicar a estudar este período da história. Casou com o antropologista Louis Leakey e juntos descobriram o primeiro fóssil de um gorila em 1974. Continuaram a descobrir fósseis importantes de hominídeos, incluindo um com mais de 2 milhões de anos. Em 1978 fizeram a sua descoberta mais fascinante as pegadas de Laetoli, na Tanzânia. Ficaram marcadas devido à cinza vulcânica há mais de 3.75 milhões de anos pelos primeiros hominídeos que caminharam. O trabalho contribuiu para o nosso entendimento atual da evolução humana.

Rita Levi Montalcini (1909-) é a mais velha laureada com o Nobel. Hoje com 101 anos, continua a viver em Itália, de onde é natural. Foi proibida pelo pai de estudar, mas conseguiu concluir o curso de medicina contra todas as expectativas. O seu trabalho na área da neurociência e os estudos sobre o sistema nervoso permitiram que descobrisse uma proteína que regula o crescimento dos tecidos, a que foi dado o nome de Nerve Growth Factor (NGF). Em 1986 recebeu o Prémio Nobel da Fisiologia e Medicina, pela descoberta que partilhou com Stanley Cohen.

Jane Goodall (1937-) viajou para a Tanzânia com 23 anos para entrar no mundo dos chimpanzés munida apenas com um bloco e um par de binóculos. Conseguiu mudar a perceção do comportamento e as semelhanças entre os primatas e as pessoas, um choque para a época. Com paciência conseguiu integrar-se na comunidade de chimpanzés e ser aceite como um membro dessa comunidade. Aprendeu mais do que se imaginava possível. O seu biógrafo descreve-a como “a mulher que redefiniu o homem”, pelo impacto da sua investigação.

Muito haveria para acrescentar sobre cada uma destas 13 cientistas que mudaram o mundo com o seu trabalho e pesquisas, Muitas mulheres contribuíram, e ainda hoje continuam e contribuir, para o mundo da ciência ultrapassando diversos obstáculos que, por vezes, encontram na tentativa de desenvolver o seu trabalho.

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