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Cidades inteligentes, mas também sustentáveis: as perspetivas mundiais

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As cidades enfrentam múltiplas pressões – crescimento populacional, expansão urbana, alterações climáticas, poluição ambiental e perturbações económicas e fiscais. Para resolver estes problemas, duas entidades das Nações Unidas lançaram uma iniciativa global para defender políticas públicas capazes de promover o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no sentido de colocar as cidades numa trajetória de desenvolvimento caracterizada pela sustentabilidade ambiental, pela resiliência e crescimento económico e social equitativo.

Atendendo à importância que as TIC têm numa lógica de cidade inteligente e sustentável, agregando e analisando dados para melhorar a compreensão e mudança dos ecossistemas urbanos, a União Internacional das Telecomunicações – International Telecommunication Union (ITU), em colaboração com a Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa – United Nations Economic Commission for Europe (UNECE), definiram o conceito de cidade inteligente sustentável – Smart Sustainable City (SSC). Assim, uma “SSC será uma cidade inovadora que utiliza as TIC e outros meios para melhorar a qualidade de vida, a eficiência e competitividade dos serviços e operações urbanas que satisfaçam as necessidades das gerações presentes e futuras no que diz respeito aos aspetos económicos, sociais, ambientais e também culturais”.

Os próprios líderes urbanos procuram, através das TIC, formas inovadoras e mais eficientes para a operacionalização das suas cidades. Os investimentos voltados para a criação de infraestruturas digitais para SSC procuram assim melhorar, não só o ambiente urbano já construído, como dar resposta aos desafios associados pela urbanização.

Instituída no Fórum da ITU-ECE “Shaping smarter and more sustainable cities: striving for sustainable development goals” (“Moldar cidades mais inteligentes e mais sustentáveis: esforço para as metas de desenvolvimento sustentável”), realizado em Roma, Itália, de 18 a 19 de maio do ano passado, a iniciativa United for Smart Sustainable Cities (USSC) – Unidos para Cidades Inteligentes Sustentáveis – procura dar resposta ao objetivo sustentável número 11 das Nações Unidas – “tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis”.

Para a concretização desta meta, a USSC defende uma “urbanização inteligente” utilizando princípios de crescimento inteligente, modelos de planeamento urbano eficazes, TIC e sistemas de energia de baixo carbono – meios ótimos para a criação de mais centros urbanos habitáveis e eficientes. Simultaneamente, a adoção deste tipo de urbanização poderá aliviar a pressão sobre os habitats naturais existentes, os recursos e a biodiversidade, reduzindo assim os riscos de catástrofes provocadas pelo Homem.

Houlin Zhao, Secretário-Geral da ITU, afirmou que “as TIC tornaram-se fundamentais para a inovação em quase todas as esferas da atividade económica e social, tornando a colaboração essencial para maximizar a contribuição das TIC para o desenvolvimento sustentável”.

De igual forma, Christian Friis Bach, secretário executivo da ECE, defendeu que “vivemos num mundo conectado e vemos novos mercados e produtos fascinantes nos quais produtos, serviços físicos e tecnologias digitais se fundem e se movem juntos”. Acrescentou ainda que “a revolução digital pode ajudar-nos a criar transportes inteligentes, sistemas inteligentes de energia, recursos eficientes e sociedades transparentes e abertas. Pode ajudar-nos a criar um desenvolvimento sustentável. No entanto, para conseguir isso, precisamos de confiança e previsibilidade, e precisamos de padrões comuns e neutros que possam funcionar além das fronteiras e das tecnologias”.

Neste sentido, a transição das cidades para cidades, não só inteligentes, mas acima de tudo sustentáveis, não deverá ser considerada uma opção ou um luxo, antes porém uma necessidade de qualquer município, independentemente da sua dimensão.

Na prossecução de um plano efetivo, a USSC apresentou um conjunto de atividades que irão ser realizadas por três grupos de trabalho. O primeiro está responsável pela definição de um enquadramento – incluindo o planeamento urbano, políticas, normas e regulamentos, além de indicadores-chave de desempenho para medir a “inteligência” e a “sustentabilidade” das cidades. O segundo grupo, encarregado da conexão das cidades com as comunidades, incluindo estratégias de vida, mobilidade e ambiente inteligentes. E um terceiro grupo que procura aprimorar a inovação e participação através de uma governação, economia e pessoas inteligentes.

Dubai, Singapura, Manizales, Montevideu, Buenos Aires, Valência, Rimini e outras cidades selecionadas já concordaram em testar os indicadores-chave de desempenho que incluem abrangência, comparabilidade, disponibilidade, independência, simplicidade e oportunidade.

O Centro para a Globalização e Estratégia, da IESE Business School – Universidade de Navarra, desenvolveu pelo terceiro ano consecutivo o seu Índice de Cidades em Movimento 2016 (Cities In Motion Index).

Com uma abordagem mais abrangente, e não focada em uma ou duas áreas (como o desempenho das cidades em relação à tecnologia ou ao meio ambiente), este índice anual examina todos os aspetos que compõem a sustentabilidade e a qualidade de vida dos habitantes de 181 cidades, 72 das quais capitais, de 80 países. São definidos 77 indicadores que abrangem dez dimensões distintas da vida urbana: economia, tecnologia, capital humano, coesão social, planeamento urbano, gestão pública e governação.

O top três desta classificação é ocupado pela cidade de Nova Iorque (em primeiro lugar), seguida por Londres e Paris. O trio é um bom exemplo de metrópoles com uma boa economia, capital humano, alcance internacional, mobilidade, transportes e tecnologia, contudo têm que apostar mais na coesão social.

Portugal também figura neste Índice. Lisboa ocupa a 62ª posição, tendo subido três lugares, enquanto a cidade do Porto está no 76º lugar, mais quatro posições do que o ranking anterior.

De uma forma mais pormenorizada, o Índice destaca as cidades que são mais prósperas em cada dimensão-chave. Londres, Boston e Washington DC destacam-se na vertente do capital humano, possuindo assim as escolas mais bem classificadas e com maior número de universidades.

Zurique, Helsínquia e Munique têm níveis reduzidos de poluição e de emissões de CO2. De referir que nesta vertente, as dez cidades mais “amigas do meio ambiente” são todas europeias.

No domínio da coesão social há oito cidades europeias nos primeiros lugares, mas Helsínquia, Munique e Copenhaga superam-se. São cidades com baixa taxa de desemprego, uma distribuição equitativa de rendimentos e a percentagem mais elevada de mulheres em cargos governativos.

Bom transportes e mobilidade facilitada são evidentes em Seoul, Frankfurt e Londres. Nova Iorque, São Francisco e Londres são os centros urbanos com melhor desempenho económico – um PIB elevado e grande número de empresas cotadas em bolsa são os fatores distintivos. Há mais seis cidades norte-americanas neste top dez.

Copenhaga, Daejeon (Coreia do Sul) e Amesterdão são as cidades mais bem planeadas porque quase 100% das suas populações têm saneamento.

O facto de terem baixos impostos sobre as vendas e a presença de muitas embaixadas torna as cidades de Washington DC, Genebra e Dubai as melhores em gestão pública. Ottawa, Toronto e Melbourne evidenciam-se no âmbito da governação – o fortalecimento dos direitos humanos e baixa taxas de corrupção são distintivos.

Paris, Londres e Hong Kong destacam-se na dimensão de alcance internacional por atraírem um número elevado de turistas, passeiros e rotas aéreas, assim como grandes eventos mundiais. As cidades de Tóquio, Seoul e Nova Iorque são as mais tecnológicas porque têm números significativos de utilizadores de banda larga.

Para cada região, o Índice de Cidades em Movimento também estabeleceu um ranking regional.

Na Europa Ocidental, Londres, Paris, Amesterdão, Genebra e Copenhaga são as cidades mais sustentáveis e que oferecem melhor qualidade de vida aos seus habitantes. Nomes também assinalados no estudo do Parlamento Europeu: Mapping Smart Cities in EU – 2014 (Mapeamento das Cidades Inteligentes na União Europeia). Como principais conclusões, a pesquisa apontou que os objetivos das iniciativas smart city estão, em geral, alinhados com as estratégias de inovação e de desenvolvimento urbano e com as metas globais da Estratégia Europa 2020. E nesta incluiu-se o emprego, a inovação e I&D, as alterações climáticas e energia, a educação e a pobreza e exclusão social. E tal não é surpreendente porque os problemas são amplamente reconhecidos e a definição de uma agenda, tanto numa perspetiva micro – de cidade -, como macro – europeia – é conscientemente forçada para a abertura e ampla participação.

O relatório indica que a maioria das iniciativas visa contribuir para um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo, sendo que as questões ambientais e as soluções verdes parecem ser a principal preocupação, visto que cerca de 50% das iniciativas avaliadas procuram resolver problemas ambientais.

À media que as cidades procuram tornar-se em lugares mais verdes, saudáveis e sustentáveis para viver, o ciclismo é uma alternativa amplamente assumida. Em Malmö, na Suécia, isso traduz-se, além das vulgares ciclovias, num bloco de apartamentos e hotel especialmente construído para pessoas que optam por um estilo de vida carro, mais amigo do ambiente.

O gabinete de arquitetura hauschild+siegel, especializado em soluções sustentáveis, procurou responder a uma cidade cada vez mais amiga das bicicletas com o seu projeto Cykelhuset Ohboy.

São 55 casas, entre estúdios e apartamentos T1, T2, T3 e T4, além de 31 lofts num “ciclo hotel” que permitem uma vida fantástica sem ter que possuir um carro, ainda que esteja incluída a partilha de uma viatura entre os moradores para viagens longas ou quando o carro for mesmo necessário. Espaço para guardar as bicicletas, elevadores de grande porte para acomodar as mesmas. Desde o início este complexo foi pensado para uma vida marcada pelos velocípedes, até as superfícies foram projetadas para serem duráveis e facilmente limpas. Haverá também instalações para carregar bicicletas elétricas e uma estação de serviço com bombas de ar, lavagens de bicicleta e ferramentas e os residentes terão direito a um serviço anual de bicicletas anual e um esquema de partilha de bicicletas. Para os interessados em jardinagem, o Ohboy tem muitas possibilidades: caixas para cultivo de hortícolas e flores, sistemas de irrigação automáticos e um pomar comum na cobertura para usufruto de todos os moradores, durante todo o ano.

Uma visão mais amiga do ambiente também é um dos fatores-chave que os peritos da JLL definiram para o ranking anual City Momentum Index 2017 (Índice de Cidades Mais Dinâmicas do Mundo). Além do ambiente, aspetos como PIB da cidade, população, presença de sedes corporativas, construção de imóveis comerciais e rendas, educação e inovação são tidos em consideração nesta pesquisa que analisa as cidades mais dinâmicas a nível mundial, têm em comum a capacidade de adotar a mudança tecnológica, de absorver o rápido crescimento populacional e de fortalecer a conectividade global.

Jeremy Kelly, Diretor da JLL em Global Research, assinala que “com mais de metade da população mundial a viver atualmente em cidades – um peso que deverá aumentar significativamente nas próximas décadas -, o sucesso destes espaços urbanos é um tema de grande importância”.

Segundo este ranking, a tecnologia continua a ser o principal motor do dinamismo nas 30 cidades mundiais que estão a mudar mais rapidamente. Estas cidades constituem um terreno fértil para a inovação e integram-se, de forma bem-sucedida, nas redes globais, apresentando, muitas vezes, um desempenho superior ao da própria economia nacional. Daí que cidades como Silicon Valley (3), Austin (7), Boston (9), Seattle (20), São Francisco (21) e Raleigh-Durham (24) nos EUA; Melbourne (12) e Sidney (16), na Austrália; e Dublin (28) e Estocolmo (30) na Europa apareçam nesta classificação. As cidades da Ásia-Pacifico correspondem a metade do Top30 das cidades que mais rapidamente estão a mudar. A Índia ultrapassou a China enquanto origem de algumas das cidades mais dinâmicas a nível mundial. São seis as cidades indianas que estão presentes no Top 30 Global do CMI, com o principal hub tecnológico do país, Bangalore (1), a ocupar o lugar cimeiro pela primeira vez.

Independentemente dos continentes, dos países e das múltiplas cidades que concorrem para se tornarem nas cidades mais inteligentes de todo o mundo, a questão da Internet of Thing (IoT) – internet das coisas – é essencial para que todos os centros urbanos se tornem mais inteligíveis e sustentáveis a partir dos dados que cada ‘coisa’ recolhe no quotidiano diário de uma cidade e dos seus cidadãos.

Essa importância é tal que a consultora Juniper Research, especializada em pesquisas sobre o mercado mobile, online e digital, prevê que o número de dispositivos e sensores IoT atingirá mais de 46 mil milhões em 2021. Um aumento de 200%, a partir de 2016, que será impulsionado em grande parte por uma redução nos custos unitários do hardware. Os serviços públicos e industriais terão o maior crescimento durante o período de previsão, com uma média anual de mais de 24%.

Os dados recolhidos via IoT são, efetivamente, cruciais para o desenvolvimento inteligente e resiliente das cidades – uma conclusão também comprovada pela WINNING Scientific Management. Sabendo que as populações geram dados que permitem ser medidos e comparados em prol de uma qualidade de vida mais elevada e otimizada, a empresa de consultoria defende que só uma correta interpretação e utilização desses dados se torna eficaz para servir de incentivo à criação e desenvolvimento de cidades inteligentes, sustentáveis, inclusivas e prósperas.

Vera Santos, responsável pelo centro de competência de Gestão da Inovação da WINNING frisa que “a gestão de áreas urbanas tornou-se um dos mais importantes desafios de desenvolvimento do século XXI. As informações e os dados recolhidos pelos municípios são vitais para a definição de prioridades políticas de forma a promover um desenvolvimento inclusivo, equitativo e sustentável tanto para as zonas urbanas como para as rurais. As normas ISO 37120 e ISO 37121 têm por base o ciclo de melhoria contínua: Planear-Fazer-Verificar-Atuar e incentivam as comunidades a tornarem-se mais pró-ativas, garantindo que as partes interessadas desenvolvem e implementam um sistema de gestão adequado para o local em causa”.

Quer seja através da implementação da norma ISO 37120, quer seja pela adoção de outras soluções tecnológicas inovadoras, a criação de uma “cultura de dados” torna-se crucial na concretização de uma cidade verdadeiramente inteligente.

// www.unece.org

// www.itu.int

// www.iese.edu

// www.ohboy.se

// www.jll.com/cities-research

// www.juniperresearch.com

// www.winning.pt

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