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Casa Modesta: Turismo de natureza em algarvio autêntico

Banhada pela beleza do Parque Natural da Ria Formosa, no Algarve, há uma Casa Modesta que associa a excelência da arquitetura portuguesa à inovação do setor turístico. O projeto de renovação é gerido em família, de forma sustentável, e tem inspiração local. Perante os prémios internacionais que se acumulam, esta unidade de turismo de natureza continua fiel a si própria e ao território que a rodeia. Sejam bem-vindos.
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“No início, existia uma casa dos anos 40 do séc. XX, sóbria e sobre a ria”. Assim começa a história da Casa Modesta, nas palavras da memória descritiva do projeto de renovação. Da casa tradicional nasceram novas linhas, imaginadas por esta abordagem arrojada de arquitetura e design. A intenção foi reabilitar a casa antiga para o setor turístico, mantendo o espírito familiar e a ligação à terra.

As portas do espaço renovado abriram ao público em 2015. Cerca de 70 anos após a sua construção originária, a Casa Modesta é hoje uma marca única na paisagem e oferta turística da região algarvia. “No final, a casa conserva a identidade que é dela e do seu lugar, intensificada pelo projeto construído e pela vivência que é dos seus habitantes”, explicam os autores do projeto arquitetónico.

É através deste criativo equilíbrio entre o design contemporâneo e o respeito pelas memórias e identidades locais que a Casa Modesta conquista atenções. Primeiro a curiosidade – nacional e internacional –, depois os prémios e galardões turísticos. O mais recente foi da Condé Nast Johansens, que elegeu o espaço como melhor hotel ambiental da Europa (e um dos locais de excelência para visitar este ano). Mas já antes a imprensa internacional tinha piscado o olho a este projeto singular: o The New York Times apresentou-o como um dos “8 hotéis europeus que parecem a nossa casa, mas melhor”, enquanto a Format Magazine integrou-o nos “10 melhores hotéis design do mundo”.

Fora de portas, dá nas vistas; em Portugal, ganha estatuto de referência. Exemplo disso é a integração da Casa Modesta na seleção da Habitar Portugal 12-14, da Ordem dos Arquitetos, que distingue obras de arquitetura “exemplares no seu tempo e na sua condição”.

O projeto foi pensado ao ínfimo pormenor. A arquitetura do ateliê PAr impõe o traçado forte e contemporâneo, fragmentado em linhas retas. A primeira impressão de quem chega à Casa Modesta é de um ambiente invulgar. Com um olhar mais demorado, descobrem-se as referências locais e a reinvenção dos elementos tradicionais da arquitetura da região: o passado está presente, sem nada a esconder, nesta reabilitação de futuro.

Num jogo de memória, preservam-se referências da casa tradicional algarvia: o tanque, as escadas exteriores, o pátio coberto, o forno, a cisterna e a açoteia. Esta última, que diz respeito a um terraço no topo do edifício (em vez do tradicional telhado), é comum na região de Olhão, resultado da influência árabe no local. Na Casa Modesta, a açoteia ganha honras de elemento central, com a opção de uma ligação exterior entre os quartos e estes terraços privativos, que podem ser aproveitados pelos hóspedes como espaços de lazer. Em tons laranja, resultado do pavimento em tijoleira regional de Santa Catarina, as açoteias aproveitam materiais locais. Além do tijolo, o projeto faz uso da cal, da cortiça, do latão e da brecha vermelha de São Brás, matérias-primas encontradas em vários elementos dos edifícios.

Já nos interiores, a atenção recai nas várias peças únicas de design, criadas propositadamente para a Casa Modesta. Peças de mobiliário foram recuperadas e reinventadas, enquanto outras foram construídas de raiz com inspiração em elementos locais. Há mesas e bancos que parecem ter chegado de outros tempos, integrados numa linha de mobiliário minimalista. Em cada quarto, a banheira é ampla e integrada no pavimento, à semelhança de uma fonte pública. Mais uma vez, a história da região é recontada nestas opções contemporâneas.

As opções de requalificação deste espaço turístico privilegiam uma visão de smart living entranhada no bem-estar, na autenticidade, na qualidade e na sustentabilidade das habitações. A tal ponto que a Casa Modesta é assumida pelo ateliê PAr como protótipo de um ideal mais amplo: o conceito Casa Chã, assente na recuperação de “construções antigas existentes, que encerram a herança física e afetiva do lugar”. O conceito prevê ainda que estes projetos de reabilitação integrem “materiais e as gentes de um lugar, criando e alimentando dinâmicas sociais e económicas, ligadas aos ofícios locais”. No final, procura-se o “excelente desempenho ambiental, através da integração local e da redução de consumos”, acrescenta a informação disponibilizada pelo ateliê de arquitetura.

Interessado numa estada neste espaço de turismo singular? Nesse caso, eis os pormenores práticos. Num dos dois edifícios da Casa Modesta, encontram-se os nove quartos para hóspedes – com respetiva ligação a uma açoteia ou a um pátio. O outro edifício assume a função de casa nuclear, com espaços comuns de salas e cozinha. Há também uma piscina sem uso de cloro, um tanque, uma sala de workshops e um Wellness Center (com destaque para as massagens com produtos locais, como o azeite ou as amêndoas algarvias). Os preços variam, por noite, entre 100 e 200 euros, consoante a época e tipologia do quarto.

Além do desfrute das paisagens da Ria Formosa na linha de costa algarvia (a pouco mais de dois quilómetros da Casa Modesta), a unidade de turismo da natureza proporciona diversas atividades a quem lá passa. A tónica assenta, novamente, na (re)descoberta da cultura local e do território circundante, à semelhança do que foi feito no projeto de arquitetura e design. Fazer as malas e pernoitar aqui é também poder usufruir de showcookings com alimentos biológicos, workshops de artes locais – como a cestaria, a pintura sobre a cal ou a cerâmica –, passeios guiados de bicicleta ou, simplesmente, de um pequeno-almoço preparado com produtos da região.

A gastronomia é, de resto, um elemento importante nesta lógica de redescobrir a cultura local. A Casa Modesta faz parte da Rota da Dieta Mediterrânica, uma rede que une ainda outras entidades algarvias nas áreas de restauração, património e produtos locais. Também por isso, há um cuidado especial na confeção das refeições (incluídas em regime de meia-pensão). À cozinha chegam carnes biológicas e peixe de origem sustentável, pescado na região. Quanto aos legumes e frutas, vêm diretamente da horta biológica da Casa.

No centro de todas estas dinâmicas – arquitetura, sustentabilidade e revitalização do património físico e cultural – ergue-se a Casa Modesta. E, dentro desta, o verdadeiro coração de um projeto de reabilitação feito com alma: Vânia, Pedro e Carlos Fernandes. Bisnetos dos primeiros moradores (e construtores) da habitação originária, os três irmãos impulsionaram uma nova vida a este espaço que passou de geração em geração.

Vânia é arquiteta no ateliê PAr e foi uma das autoras do projeto de renovação. Pedro é fisioterapeuta e responsável pelo Wellness Center da Casa Modesta. Carlos deixou a área de formação – engenharia aeronáutica – para se dedicar a tempo inteiro ao espaço turístico. Todos contribuem, à sua maneira, para que a Casa Modesta seja um local verdadeiramente familiar e inesquecível. Das raízes históricas às linhas contemporâneas, da gastronomia local à tijoleira das açoteias, o Algarve ganha aqui um novo ponto de redescoberta de si próprio. A hospitalidade, essa, é a de sempre.

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