As filmagens de “Uma vela para Deus e outra para Beto” acabam já no fim deste mês e prometem fazer história no cinema brasileiro como exemplo de que o preconceito pode e deve ser superado.
“Eu cheguei a ouvir pessoas a dizer: “Coitado! Um cara cego e quer dirigir… Alguém tem que dizer para ele que isso não pode, que cinema é uma arte visual”. E eu estou aqui mostrando que não é assim”, afirmou o realizador à agência Lusa.
João Júlio Antunes está cego há 14 anos e considera a sua vida uma história de superação e aconselha a todos que lutem pelos seus sonhos. A perda de visão foi causada por uma rara doença genética, chamada retinose pigmentar que causa a destruição das células na retina.
Mas nem a cegueira, nem a morte prematura dos pais ou a deficiência renal que o colocou na lista de espera para um transplante o impediram de realizar o sonho de tornar-se cineasta.
“Tudo o que você quer, que você sonha, que você deseja, que você vai atrás, você consegue”, garantiu o realizador.
A João Júlio Antunes vale-lhe assim a forte memória visual que guarda da altura em que via, a audição aguçada e a bengala que lhe permite executar o trabalho de realização.
“A minha bengala tem 1,30 metros, eu mais ou menos tenho essa noção mas as pessoas ficam sem entender como eu meço os espaços”, conta Antunes ao site da Globo.
São os diretores e auxiliares da equipa que descrevem para Antunes o que vai ser gravado. “Os olhos dele são os meus olhos”, diz o diretor de fotografia Cláudio Luis de Oliveira sobre como funciona a parceria.
Quando chegar aos cinemas, o filme, que conta com patrocínio do estado brasileiro, terá descrição falada das cenas para que os deficientes visuais possam assistir para além da linguagem de sinais para surdos.
“Mas não é um filme feito para deficientes. É um filme feito para todo o mundo!”, garante o diretor João Júlio Antunes.
“Uma vela para Deus e outra para Beto” conta como um jovem herdeiro de um banco, que tem como conselheiros um monge budista e um padre, resolve mudar radicalmente de vida.