Saúde

Amnésia: Cientistas resgatam memória através da luz

É possível "resgatar" memórias perdidas em caso de amnésia através da ativação das células cerebrais por intermédio da luz. A conclusão é de um grupo de investigadores norte-americanos, que conseguiu devolver a ratinhos as suas memórias.
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É possível “resgatar” memórias perdidas em caso de amnésia através da ativação das células cerebrais por intermédio da luz. A conclusão é de um grupo de investigadores norte-americanos, que conseguiu devolver a ratinhos as suas memórias recorrendo à optogenética, um conjunto de técnicas que combinam luz, genética e bioengenharia no estudo dos circuitos neuronais.
 
O avanço foi dado a conhecer num estudo publicado, a semana passada, na revista científica Science, que dá resposta a uma das mais debatidas questões na área da neurociência: a origem da amnésia, revelam os cientistas do Departamento de Biologia do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e do Picower Institute for Learning and Memory, nos EUA.
 
Durante décadas, os cientistas têm discutido duas opções para explicar este problema. A maioria acredita que a amnésia – causada quer pelo 'stress', quer por lesões traumáticas ou doenças como o Alzheimer – é provocada por danos em células cerebrais específicas, o que impede que as memórias sejam preservadas.
 
Agora, este grupo de investigadores norte-americanos conseguiu, porém, provar que, ao contrário do que se pensava, a opção menos defendida é a mais provável. O que acontece é que, quando existe amnésia, o acesso às memórias fica, de certa forma, “bloqueado”, impedindo que sejam lembradas embora permaneçam no cérebro. 
 
“A maior parte dos investigadores tem favorecido a chamada 'teoria do armazenamento', mas, com este estudo, provámos que a teoria da maioria deve estar errada. A amnésia é, na verdade, um problema de dificuldade na recuperação de informação”, explica Susumu Tonegawa, um dos autores do estudo, em comunicado.
 
No passado, os especialistas tinham já especulado acerca da possível existência, no cérebro, de uma população de neurónios ativada durante o processo de formação de uma memória e cuja ativação desencadearia mudanças físicas ou químicas.
 
Ao serem, posteriormente, “reativados” devido a um gatilho como uma imagem ou um cheiro, por exemplo, estes neurónios conseguem recuperar totalmente uma memória, funcionando como as chamadas células “engram” de memória. 

Ativação luminosa dos neurónios “resgata” totalmente a memória
 

A existência deste grupo de neurónios foi provada, em 2012, pela equipa de Tonegawa, mas só agora os investigadores foram capazes de desvendar as mudanças cerebrais que ocorrem durante a consolidação de uma memória e que envolvem o “fortalecimento” das sinapses, estruturas que permitem que os neurónios comuniquem entre si em resultado da aprendizagem.
 
Os cientistas identificaram um grupo de células “engram” de memória no hipocampo que, quando ativadas através da luz, eram capazes de expressar memórias, observando-se um “fortalecimento” das sinapses que as uniam e que asseguravam, por seu lado, que as informações adquiridas se mantinham no cérebro.
 
Em testes com ratinhos, a equipa procedeu à administração de um composto – a anisomicina – que bloqueia esta comunicação entre os neurónios, impedindo a consolidação das memórias. Quando tentaram, no dia seguinte, “reativar” as memórias recorrendo aos gatilhos emocionais, a experiência não foi bem-sucedida.
 
“Embora as células 'engram' lá estejam, sem passar por um processo de consolidação, a memória perde-se”, realça Tonegawa. Porém, quando os investigadores tentaram reativar o processo de consolidação – bloqueado pela anisomicina – utilizando técnicas de optogenética, os ratinhos conseguiram recordar as informações armazenadas na totalidade.
 
“Se tentarmos recuperar as memórias com 'gatilhos' naturais em animais em que o processo de consolidação esteja quimicamente bloqueado – o que se traduz na amnésia -, é impossível fazê-lo. Mas se atuarmos diretamente sobre as células 'engram' e as ativarmos com luz, podemos recuperar totalmente as memórias, mesmo sem consolidação”, congratula-se o cientista.

Clique AQUI para aceder ao estudo (em inglês).

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