Era feitor de uma quinta no Alto Douro, mas isso não o impediu de obter a licenciatura de Teatro e Artes Performativas, com uma média de 16 valores, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Afonso Bonito tem 61 anos e prepara-se agora p
Era feitor de uma quinta no Alto Douro, mas isso não o impediu de obter a licenciatura de Teatro e Artes Performativas, com uma média de 16 valores, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Afonso Bonito tem 61 anos e prepara-se agora para participar num filme de Manoel de Oliveira. No curso de teatro da UTAD, Afonso era o aluno mais assíduo e com melhor aproveitamento. A sua experiência no meio artístico resumia-se ao seu envolvimento em algumas peças na área do teatro amador da sua aldeia, onde foi ponto, contra-regra, ator, encenador e dramaturgista.
De resto, Afonso Bonito nasceu no seio de uma família humilde residente na Cumieira, no concelho de Santa Maria de Penaguião. Trabalhou desde jovem na agricultura, como muitos outros na época e alistou-se ainda na Marinha, servindo em Cabo Verde e na Guiné no período da Guerra Colonial.
Quando regressou, decidiu dar continuidade aos estudos, já que apenas tinha habilitações equivalentes à antiga quarta classe. Assumindo-se como auto-didacta, cultivou o saber dos livros que requisitava nas velhas carrinhas da Gulbenkian que, esporadicamente, passavam na sua aldeia. De acordo com o Semanário Transmontano, Afonso conseguiu concluir o quinto ano “dispensando sempre as orais”.
No anunciado filme de Manoel de Oliveira, “O estranho caso de Angélica”, Afonso Bonito desempenhará o papel de caseiro de uma quinta do Douro. Não será difícil sentir-se como peixe na água.
Este é mais um caso de sucesso entre os portugueses que decidem ingressar no ensino superior através do regime para maiores de 23 anos. Segundo o Semanário Transmontano, mais de 75% dos inscritos nesse regime dão continuidade ao seu percurso de formação.