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A inesperada amizade entre uma menina e uma águia

No final de 2013, o jovem fotógrafo Asher viajou até à Mongólia. Encontrou tradições antigas que estão a passar para as novas gerações. E uma menina que percorre as montanhas com uma águia pela mão.
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Aos 24 anos, o fotógrafo israelita Asher Svidensky já sabe bem o quer: contar estórias com a sua câmara. No final de 2013, viajou até à Mongólia, no interior da Ásia. Ali encontrou tradições antigas que estão a passar para as novas gerações. E uma menina que percorre as montanhas com uma águia na mão.

por Patrícia Maia
 

No topo da montanha, a menina e a águia partilham o mesmo céu. Para encontrar esta imagem, o jovem fotógrafo Asher Svidensky teve que “ouvir o sussurro” da sua “voz interior”. Valeu a pena. As fotos dos caçadores-águias da Mongólia foram publicadas em jornais e revistas do mundo inteiro e valeram-lhe fama internacional. 

Num mundo saturado de imagens, Asher acredita que para marcar a diferença, enquanto fotógrafo, é preciso ir mais longe. “Não penso que os 'smartphones' e as câmaras digitais ameacem a nossa carreira, mas tento acrescentar algo de mais valioso, aliando as minhas imagens à minha vontade de contar estórias”, explica em entrevista ao Boas Notícias, a partir de Israel.

Para encontrar uma boa estória, é preciso procurar. Depois de trabalhar três anos como fotógrafo do exército e dois anos na área da publicidade, Asher conseguiu juntar dinheiro para ir atrás dos seus instintos e encontrar o que procurava.
 

Asher Svidensky com duas crianças na Mongólia

“Fiz muitas coisas que não queria como fotógrafo”


“Tentei trabalhar como foto jornalista mas percebi que não havia dinheiro: estavam sempre a pedir-me para trabalhar de graça. O que consegui, durante dois anos, foi trabalhar para publicidade. Fotografei produtos, embalagens, joias… Fiz muitas coisas que não queria mas durante esses dois anos consegui poupar dinheiro para as viagens”, recorda.

Asher começou por viajar até à China, onde lhe disseram que “conseguiria boas imagens para vender”. “Mas desde o dia em que saí de Israel com destino à China, tudo o que aconteceu, de bom e de mau, conduziu-me a esta reportagem. Não foi planeado, foi como se estivesse a ser conduzido. Só percebi isso no final mas foi o que aconteceu”, explica.
 
“Ver com os meus próprios olhos” 
 
Na China, senti-me “muito sozinho, senti que as minhas fotos não acrescentavam nada de novo ao que já tinha sido feito: pouco fugiam das imagens batidas de camponeses idosos ao pôr-do-sol”.

Asher decidiu seguir a sua voz interior: “Estava intrigado pela Mongólia porque não encontrei praticamente informação nenhuma sobre o país. Se perguntares a qualquer pessoa no mundo que te diga qualquer coisa sobre África ou sobre Nova Iorque, as pessoas conseguem dizer qualquer coisa. Mas a Mongólia é um mistério. Há quem nem saiba que existe. Isso intrigou-me. Quis ser eu a contar a estória desse país, quis ver com os meus próprios olhos”.

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O fotógrafo Asher Svidensky a mostrar as suas fotografias a uma das famílias da Mongólia

Esteve 40 dias na Mongólia a fotografar. Contratou um tradutor para ficar “mais próximo das pessoas”, percorreu quilómetros a cavalo. Foi em Ulgii, uma cidade na zona oeste do país, que ouviu falar nos caçadores-águia. Na Mongólia, esta é uma tradição com vários séculos. Os caçadores são iniciados por volta dos 13 anos, altura em que já têm força para segurar uma águia com as mãos. As aves são domesticadas desde bebés e são usadas para caçar animais como raposas ou marmotas. 
 

“Encontrar estas famílias foi um desafio. Ouvimos dizer que existiam mas não sabíamos exatamente onde estavam. Andámos muitos quilómetros a cavalo, em montanhas que chegavam aos 20 graus negativos, perguntando às pessoas se conheciam algum caçador. Ao fim de uns dias batemos à porta de uma casa e quando o miúdo abriu a porta percebi logo que tinha encontrado a pessoa certa”, recorda o fotógrafo. 
 
Depois de passar alguns dias com a família do jovem Irka Bolen e de o fotografar treinando a águia com o seu pai, Asher continuou à procura de mais personagens para completar a sua estória. Chegou a fotografar o menino-caçador mais jovem da Mongólia. Bahak Birgen tem hoje 14 anos, mas começou a treinar a sua águia quando tinha apenas 8 anos. Mesmo depois destas imagens, o fotógrafo israelita sentia que continuava a faltar qualquer coisa. 
 
“Momentos que me fazem sentir vivo”
 
Foi então que a sua busca conduziu à estória que viria a marcar a diferença: a única rapariga que convive, tal como os rapazes, com uma águia. A tradição mongol dita que apenas os homens devem ser iniciados nesta arte, mas a jovem Ashol Pan prova que, mesmo na Mongólia, a tradição nem sempre é o que era. São estes momentos que “me fazem sentir vivo e que me fazem sentir que o que faço vale a pena”, conclui o fotógrafo. 
 

O jovem fotógrafo com dois caçadores com águias nas montanhas de Ulgii, Mongólia

Asher está de novo em Israel mas vai regressar, já este Verão, à Mongólia, para trabalhar com as Nações Unidas na preservação das tradições mongóis junto das gerações mais novas.

Para breve, o jovem fotógrafo espera fazer uma reportagem sobre o xamanismo, na Sibéria, “porque é um daqueles temas sobre o qual não há informação”, explica. E de onde virá o dinheiro? Asher tem a resposta preparada: “Senão arranjar dinheiro vou financiar eu a viagem. Precisamos acreditar em nos próprios!”. 

Clique AQUI para visitar o site oficial de Asher Svidensky e conhecer melhor o seu trabalho.

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