Sociedade

7 projetos querem mudar para sempre a beira interior

Criar um banco de terras para troca de espaços agrícolas e maquinaria, ensinar programação a crianças e conectar idosos com jovens para criar novos produtos de base tradicional são apenas algumas das medidas da Iniciativa para a Economia Cívica.
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Criar um banco de terras para troca de espaços agrícolas e maquinaria, ensinar programação a crianças e conectar idosos com jovens para criar novos produtos de base tradicional são apenas algumas das medidas da Iniciativa para a Economia Cívica que quer mudar a paisagem humana das beiras.

Por Gisela Gomes*

 
Comunidades do IEC A realidade do interior do país apresenta desafios: é uma zona despovoada, a população está envelhecida e o tecido económico revela-se enfraquecido.

Mas a Iniciativa para a Economia Cívica, formada pelas comunidades de Penela, Miranda do Corvo, Idanha-a-Nova, Vila Velha de Ródão, Gouveia, Fundão e Lousã, apresentou esta semana os sete projetos-bandeira que querem mudar esta realidade.

 
Usando os recursos e ativos existentes em cada zona, estas comunidades propõem soluções inovadoras para mudar o futuro das suas regiões. Ao longo prazo, espera-se que todos os projetos sejam auto-sustentáveis e tenham efeitos pronunciados nos locais em que se realizam e em todo o país.
 
Como financiamento, a IEC conta com 150 milhões do programa “Portugal Inovação Social” e parcerias com diversas entidades, públicas e privadas.
 
O Boas Notícias esteve presente na apresentação e falou com alguns dos representantes de cada área. Veja abaixo um resumo de cada projeto:
 
1. Fundão – TICs ao Serviço da Inovação Social
Entre o vermelho das deliciosas cerejas do Fundão, Paulo Fernandes, Presidente da Câmara Municipal revelou que quer apostar na literacia digital para inverter os processos de desertificação e estimular a economia da região.

As metas do projeto são ambiciosas: eliminação gradual do desemprego jovem/qualificado, ensinar programação a crianças, converter 80 desempregados em profissionais TIC por ano, criar 100 novos postos de trabalho por ano nas áreas das TIC, atrair até 40 novos residentes anualmente, fomentar a economia local em 1 milhão de euros e desenvolver o mercado de arrendamento em 25%.

 
A aposta do concelho nas TIC vem de longe, com o objetivo de transformar o Fundão num dos principais centros de tecnologia em Portugal. Para atingi-las, a câmara propõe-se para dinamizar, desenvolver e promover eventos tecnológicos e de ensino sobre TIC, de modo a formar pessoas de todas as idades numa área profissionais muito relevante nos dias de hoje e que, no futuro, vai ser a joia da região. 
 
Um dos programas já em funcionamento passa pelo pagamento da formação em TIC pela Câmara do Fundão. No futuro, se o formado arranjar emprego, este pagara parcialmente o custo do ensino, de modo a que outras pessoas possam desfrutar do programa. Contudo, se este não arranjar emprego, então “falhamos os dois”, conta o Presidente, e o jovem não tem de pagar o curso, reduzindo assim o fator de risco.
 
2. Gouveia – HUB Criativo vai juntar jovens e idosos
O projeto de Gouveia passa pela criação de um HUB Criativo, um espaço onde empreendedores podem reunir-se para trocar ideias, conhecimento e competências de modo a fomentar a inovação nos setores produtivos.
 
O programa envolve 21 entidades, como instituições de ensino e da saúde e empresas a trabalhar em Gouveia, e deseja “captar e rentabilizar aquilo que é o know how das pessoas numa lógica de inter-geracionalidade entre jovens e seniores”, conta Jorge Ferreira, vereador de Gouveia. Em palavras mais simples, o objetivo é “que os seniores transmitam os seus conhecimentos e os mais jovens, de certa maneira, reformulem estas ideais" e formulem "novas formas de vender o produto".
 
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Este projeto assenta no princípio de dar às pessoas as ferramentas necessárias para reformularem as suas vidas. “Nós costumamos dizer em Gouveia que a Câmara ajuda a concretizar as coisas, mas as pessoas não podem esperar que a Câmara resolva sempre tudo”, comenta o vereador, que afirma que o que a iniciativa tem de “valor” e “inovador” é fazer com que “as pessoas se sentem, pensem nas coisas e procurarem soluções” e depois “com a nossa ajuda procurem financiamento.”
 
3. Idanha-a-Nova – 24 projetos para uma nova ruralidade
Um dos projetos mais ambiciosos e que “já está numa fase de evolução” foi apresentado pelo Presidente da Câmara de Idanha-a-Nova que também preside à Associação para a Economia Cívica, Armindo Jacinto.

Através de 24 iniciativas diferentes, pretende-se desenvolver a economia rural, envolver e formar a população local, criar condições para atrair nova população e empresas, criar plataformas informáticas para agregar conhecimento e oportunidades e modernizar os processos de administração.
 
De todas estas iniciativas, destacam-se o já existente Banco de terras para troca de espaços agrícolas e maquinaria, os projetos de formação em atividades relacionadas ao campo e o reforço da formação escolar, o teste territorial para ver se seria mais feliz no campo ou na cidade e o Idanha Green Valley que quer transformar Idanha num “Silicon Valley” da agricultura.
 
Estas iniciativas querem modernizar a região mas também contectá-la com o resto de Portugal. O presidente reforçou o ponto de que hoje “o mundo é global e estar aqui ou em Idanha é uma questão cultural” pois o facto de alguém se mudar para Idanha não significa que essa pessoa “se divorcie do mundo”. 
 
 
4. Lousã – Território Inclusivo
O projeto-bandeira apresentado pelo presidente da câmara, Luís Antunes, tem como objetivos integrar as pessoas com incapacidades, criar formas de turismo acessível e promover o sucesso escolar.
 
Dentro das iniciativas que vão ser desenvolvidas, está, por exemplo, o programa 10.000 vidas que “permite à população sénior manter-se na sua habitação com condições de segurança e autonomia” de modo a evitar “a sua institucionalização precoce”, conta o presidente. Outro programa é o Microninho que vai ajudar pessoas que “caíram em situação de desemprego” e “através do reforço das suas competências pretende-se que muitos deles (…) criem o próprio emprego.” 
 
Sempre com a perspetiva da inclusão, Lousã compromete-se a “acolher adequadamente as pessoas com incapacidade” e conseguir assim “aproveitar este mercado de pessoas com incapacidade, seja ela temporária ou permanente.”
 
5. Penela – Saúde inteligente e preventiva
“O aumento da esperança média de vida tem esta coisa terrível que é que temos cada vez mais idosos, durante mais tempo, muitas vezes com doenças crónicas que pesam no nosso sistema nacional de saúde”, conta o Presidente da Câmara de Penela, Luís Matias.

Uma situação que Penela quer resolver. A proposta é a “promoção de hábitos de vida saudáveis” com a introdução de programas educacionais, revitalização de espaços verdes e a criação de mais espaço para fazer exercício.

 
6. Vila Velha de Ródão – Criação de uma plataforma de promoção digital
Numa terra onde existe um “investimento privado de nove mil euros por habitante”, Vila Velha de Ródão tem um enorme património cultural e natural, mas também um “grande património humano”, conta o Presidente da Câmara, Luís Pereira.

O projeto-bandeira desta comunidade deseja, por isso, aproveitar todos os produtos e conhecimentos já existentes para dinamizar o concelho.

 
“Velho é alguém que tem vinte anos e não tem energia para mudar a sua vida,” defende o engenheiro João Martins, que fez a apresentação da iniciativa.

O projeto engloba várias ações de formação nas áreas de gestão, marketing, TIC, comunicação e logística e, sobretudo, a criação de uma plataforma digital onde vão estar apresentados os produtos e produtores da região.

 
7. Miranda do Corvo – Crianças brilhantes e florestas
Este projeto é o único que não nasce da autarquia, mas sim de várias organizações em Miranda do Corvo, conta Jaime Ramos, presidente da Fundação ADFP. As metas estão “muito assentes no reforço da educação das crianças” e na dinamização “dos talentos dos jovens e de toda a comunidade.”
 
A nível de iniciativas, Miranda do Corvo apresenta um programa “fundamental”, batizado 'Mentes Brilhates', que pretende “ensinar às crianças matérias que normalmente a escola não ensina” de modo a identificar as crianças que sobressaem para os “rentabilizar e apostar nas suas competências e talentos”.

Outra iniciativa é a criação de um cadastro florestal para reabilitar e aproveitar as florestas da região, que compõem mais de 70% do território.


Projetos "podem mudar o rumo de um país inteiro"

A apresentação dos projetos-bandeira terminou com as participações de Gianluca Misuraca da Comissão Europeia; Tiago Marques, diretor do BPI, e Filippo Addarii, CEO da Plus Value. 

 
Destaca-se o comentário de Filippo, que vive em Londres e comentou, a propósito do Brexit, que as pessoas que votaram pela saída do Reino Unido da União Europeia eram, "na sua maioria, pessoas envelhecidas, das zonas rurais, com uma baixa educação". "Projetos como estes", explicou Filippo, "podem mudar o rumo de um país inteiro". 

*Edição de Patrícia Maia

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