Sociedade

Trabalho: Reconhecer, confiar, ser honesto

O trabalho precário aliado à pressão excessiva das entidades patronais formam um cocktail explosivo que pode conduzir a situações extremas, como os suicídios registados o ano passado na France Telecom. Porque trabalhadores felizes produzem mais e
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O trabalho precário
aliado à pressão excessiva das entidades patronais formam um cocktail
explosivo que pode conduzir a situações extremas, como os suicídios
registados o ano passado na France Telecom. Porque trabalhadores
felizes produzem mais e melhor importa sublinhar, neste 1º de maio, Dia
do
Trabalhador, como se pode garantir o bem-estar
laboral. Reconhecimento, confiança e transparência são factores
fundamentais para obter resultados positivos nas empresas, explica a
economista Rita Campos e Cunha, especialista em organizações positivas,
em entrevista ao Boas Notícias.

O que é, na perspectiva dos estudos que tem conduzido, uma “organização positiva”?

Nos estudos que Miguel Pina e Cunha, Arménio Rego e eu temos levado a cabo, as organizações positivas caracterizam-se por ter um ambiente em que as pessoas se sentem reconhecidas pelas suas contribuições, promovendo um sentimento de justiça.

A par com o reconhecimento, encontramos uma comunicação frequente e honesta, a acessibilidade das chefias que estabelecem interacções positivas com os membros das suas equipas, um clima de confiança e de lealdade entre as pessoas.

Finalmente, as organizações positivas possuem níveis elevados de transparência organizacional […]. As chefias que encorporam estas qualidades têm a capacidade para absorver algumas emoções negativas como a frustração, o medo, o desânimo, que inevitavelmente surgem num ambiente de trabalho, e transmitem uma confiança que estimula a cooperação e o bem-estar.

Que influência pode ter a qualidade da vida profissional dos trabalhadores no sucesso das empresas?

É natural que tenha e há muitos estudos que o demonstram. As pessoas que trabalham em organizações positivas encontram um contexto que facilita o seu eficaz desempenho profissional. A comunicação clara e o feedback frequente faz aumentar o sentimento de auto-confiança, ou seja a noção de que consegue produzir resultados.

Estes colaboradores são mais persistentes, e estão mais dispostos a assumir objectivos mais difíceis. […] Por isso, nestas organizações, é vulgar que as pessoas tenham elevados ritmos de trabalho. Tudo isto contribui para os resultados empresariais, já que as empresas são “humanas” e os seus resultados dependem da competência e da motivação dos colaboradores e das chefias.

E qual a influência do bem estar laboral na felicidade individual dos seus funcionários?

Os factores que mais contribuem para a felicidade são as relações afectivas (as amorosas, familiares e de amizade) e o trabalho. A felicidade é um sentimento de bem-estar subjectivo, que está intimamente ligado aos relacionamentos interpessoais positivos, que contribuem para o nosso desenvolvimento como pessoas e que nos dão um significado, um propósito de vida. Se pensarmos no tempo que o trabalho ocupa na nossa vida, e na sua centralidade, é óbvio que pode contribui para a nossa felicidade ou infelicidade.

Comparativamente a outros países ocidentais, as empresas portuguesas estão mais perto ou mais longe de serem organizações positivas?

Como em todo o mundo, em Portugal há empresas positivas e outras que o não são. Todos os anos os estudos sobre “as melhores empresas para se trabalhar” o demonstram.
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Recentemente, França foi noticia devido a uma série de suicídios que ocorreram na France Telecom. A esse propósito, o psiquiatra Christophe Dejours alertou para a necessidade de lutar contra as actuais condições de trabalho do mundo ocidental. Concorda com este alerta?

A precariedade contratual pode contribuir para que as pessoas sintam menor segurança psicológica no seu trabalho e portanto, menor satisfação. Muitas vezes os contratos precários estão associados a uma menor comunicação e ao tratamento menos respeitador do direito individual, do desenvolvimento de competências e de funções com significado.

Há maneira de contornar as consequências negativas dos contratos precários?

Em mercados cada vez mais competitivos, as empresas necessitam de manter uma flexibilidade que os contratos permanentes não garantem com uma legislação laboral restritiva. Daí que haja um recurso crescente a contratos mais precários. No entanto, se esses colaboradores forem tratados com respeito e de forma a potenciar a sua empregabilidade futura, a precariedade pode não afectar de forma significativa a satisfação no trabalho.

E em Portugal?

Ainda recentemente fomos brutalmente alertados pelos suicídios de um jovem e de um professor, ambos aparentemente vítimas de situações de bullying nas escolas. Estas situações são terríveis. Quando pensamos na profundidade do sofrimento pessoal, para levar a este tipo de decisão tão radical, a conclusão a retirar é que algo muito mau se passa nalgumas escolas, em que a violência física e psicológica só pode ser, no mínimo, avassaladora. Estou certa que estas são situações de excepção, mas que nos fazem reflectir quanto à toxicidade dos relacionamentos entre pessoas.

Há profissões mais propensas a esse tipo de situações stressantes e violentas?

Haverá certamente setores de atividade mais propensos a interações negativas do que outros, quer pelos níveis de stress, pela competitividade interna que pode, por exemplo, ser induzida por certos sistemas de incentivos, quer pelas condições económicas e sociais (de pobreza) de algumas camadas da população.

Ultimamente o conceito de Felicidade Interna Bruta, inicialmente desenvolvido pelo Butão, tem vindo a ganhar adeptos. Concorda com os nove indicadores a que o FIB recorre para medir a felicidade das nações?

Concordo. Todos estes fatores têm impacto naquilo que eu disse anteriormente. É fundamental que as pessoas tenham um equilíbrio entre o trabalho e a sua vida pessoal e, deste modo, possam manter relações afectivas, de amor e amizade, que são essenciais à felicidade, e relações de trabalho com significado, propósito e desenvolvimento do seu potencial.

Poderia a implementação do FIB, em Portugal, inverter estes resultados?

Julgo que esta inversão demorará bastante tempo a acontecer. Mas se este índice chamar a atenção dos nossos governantes (nacionais e locais) e líderes empresariais para algumas das dificuldades que os portugueses enfrentam diariamente, ajudará certamente.

p.m.

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