Ciência

Portugueses alteram pela primeira vez código genético

Uma equipa de investigadores portugueses da Universidade de Aveiro (UA) conseguiu, pela primeira vez a nível internacional, quebrar uma das regras sagradas da biologia: a de que o código genético é imutável, conseguindo alterá-lo num ser vivo.
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Uma equipa de investigadores portugueses da Universidade de Aveiro (UA) conseguiu, pela primeira vez a nível internacional, quebrar uma das regras sagradas da biologia: a de que o código genético é imutável. O feito foi alcançado através de um trabalho que decorreu ao longo dos últimos quatro anos e que foi agora publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
 
De acordo com um comunicado enviado ao Boas Notícias pela UA, os doutorandos Ana Rita Bezerra e João Simões, sob a coordenação de Manuel Santos, professor do Departamento de Biologia daquela instituição, descobriram que o fungo patogénico Candida albicans utiliza um código genético diferente do dos outros seres vivos e conseguiram compreender como este fungo alterou o seu código genético. Com o novo conhecimento, ambos foram capazes de levar a cabo a primeira alteração artificial do código genético de um ser vivo.
 
O código genético define as regras químicas que os seres vivos utilizam na tradução da informação dos seus genes em proteínas, sendo altamente conservado em todos os seres vivos. As moléculas que o implementam durante o processo de biosíntese proteica estão entre as mais antigas que se conhecem e, segundo os especialistas, contêm mais de 3,5 mil milhões de anos, supondo-se que tenham estado presentes nos momentos iniciais do desenvolvimento de vida na Terra.
 
Qualquer alteração efetuada a estas regras químicas desencadeia um caos generalizado nas proteínas e, consequentemente a morte celular, o que torna a manipulação do código genético uma tarefa impossível. No entanto, os investigadores da Universidade de Aveiro acabam de dar um passo de gigante.
 
“Os fungos com o código genético alterado produzidos pelos investigadores da UA são fascinantes do ponto de vista biológico e evolutivo, têm alterações morfológicas impressionantes e uma enorme capacidade de adaptação a novos nichos ecológicos”, pode ler-se no comunicado.
 
Além disso, continua o documento, “são também tolerantes aos antimicóticos, mostrando que pequenas alterações na fidelidade da biosíntese de proteínas desempenham um papel importante na evolução da resistência a drogas antimicrobianas. 

Novas pistas para compreensão da infeção com Candida albicans
 

Com o objetivo de aprofundar o estudo da biologia dos novos fungos, Ana Rita Bezerra e João Simões sequenciaram o seu genoma e analisaram a resposta imunitária humana a estes fungos em parceria com colegas do centro de sequenciação de genomas de Barcelona (CNAG), do Instituto Europeu de Bioinformática (EBI) e com especialistas das Universidades de Florença e Perugia, em Itália.
 
Os resultados desta análise revelaram profundas alterações no genoma dos fungos cujo código genético foi modificado ao nível da resposta imune humana e da inflamação crónica em ratinhos de laboratório, o que sugere novas pistas para a compreensão do mecanismo de infeção com Candida albicans.
 
A dupla de doutorandos está, neste momento, a estudar as novas caraterísticas da biologia destes fungos para melhorar a compreensão acerca do modo como estes toleraram a modificação no código genético, como causam infeções e como se tornam resistentes aos fármacos usados atualmente.
 
Os cientistas esperam, ainda, adianta a UA, ser capazes “de manipular o código genético de outros seres vivos de modo a produzirem microrganismos com caraterísticas interessantes para a biotecnologia e biomedicina”.
 
Os estudos em causa foram financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e pelo projeto Europeu do sétimo programa quadro (FP7) Sybaris, sendo que o resumo dos mesmos pode ser consultados, em inglês, na revista científica PNAS, clicando AQUI.

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