i9magazine

Mendes Gonçalves: Sonhar, destabilizar e internacionalizar

Versão para impressão

Um sonho que, desde 1982, ano de fundação da Mendes Gonçalves, dita o seu sucesso. E uma instabilidade que persiste desde a génese da empresa e que assenta no desafio constante que a inovação impõe a um operador de commodities.

Para Carlos Gonçalves, o êxito da Mendes Gonçalves é seguramente “improvável” por ter nascido como empresa familiar que começou logo a inovar com o fabrico de vinagre de figo, produto abundante na região da Golegã, onde estão inseridos.Captura de ecrã 2016-06-23, às 14.54.53

Na altura, concorriam com os tradicionais vinagres de vinho existentes no mercado, e evoluíram para novos produtos como vinagres de cidra ou de arroz. Contudo, constatam que a possibilidade de inovação e crescimento apenas com um tipo de produto – vinagre – era insuficiente para a dimensão do sonho e, em 2000, entram no mercado dos molhos. Começaram por produzir maionese e ketchup e em 2013, após comprarem a insígnia Paladin ao grupo Savora, apresentam a marca para o mass market com uma estratégia de marketing e comunicação irreverente e diferenciadora.

Neste momento, os “Temperos de Portugal” estão já presentes em cerca de 30 países, sobretudo em mercados emergentes com novas classes de consumidores dispostos a experimentar os produtos Paladin, como Norte de África e Médio Oriente.

Com um volume de faturação de 28 milhões de euros, a internacionalização da marca representa entre 25 a 30% desse total. Sem poder revelar os segredos das receitas dos molhos Paladin, o CEO adianta porém o segredo por detrás da internacionalização e crescimento da empresa que, nos últimos cinco anos, tem sido sempre na ordem dos dois dígitos, “e dois dígitos, muitas vezes, mais do que 20%”. Assim, o processo de internacionalização não passa pela exportação. Carlos Gonçalves garante que “não vendemos contentores, nem mercadoria, nós internacionalizamos a Paladin, sempre. Para qualquer mercado, podendo haver alguma exceção nalgum mercado que não seja target. Sempre que temos algum cliente ou distribuidor interessado em comprar os nossos produtos, vamos ao mercado, analisamos o mercado em conjunto, analisamos se esse distribuidor tem capacidade para aquilo que queremos. Como é que ele olha para a marca, para o futuro e para todos os passos que temos que dar. Estudamos o mercado, os concorrentes e o tipo de produtos existentes e as possibilidades que a nossa gama terá, se é preciso criar novos produtos. Trazemos os distribuidores à fábrica, à nossa casa. Queremos que nos conheçam muito bem. E se tudo isso fizer match passamos a ter um distribuidor”. Sem nunca terem pressa, é com base neste procedimento, que demora aproximadamente um ano (ou mais), que a Mendes & Gonçalves internacionaliza a Paladin. “Não vendemos tudo aquilo que temos, vendemos produtos que fazem sentido. São diferentes de mercado para mercado. Normalmente, começamos por vender uma gama não muito alargada – entre dez a 15, às vezes 20 produtos. E com a estratégia da marca Paladin ser uma marca relevante em todos os mercados onde entramos”, acrescentou.Captura de ecrã 2016-06-23, às 14.55.25

Pela relevância que já detinha em Angola, onde estava presente há quase 30 anos, a Paladin decidiu investir neste país que acolheu, em Luanda, a primeira fábrica da marca fora de Portugal. Apesar de estar a operar há já um ano, foi inaugurada em maio e os cerca de vinte trabalhadores desta nova unidade fabril “nunca faltaram e às vezes têm maior produtividade que em Portugal”, afirmou Carlos Gonçalves.

Dentro da política de internacionalização, nunca entram num país na sua globalidade. Podem, por vezes, só lançar a marca na capital, avançando depois com o alargamento da distribuição e da gama de produtos.

Apesar de terem registado uma quebra de vendas em alguns países produtores de petróleo, que estão em crise, como a Argélia, viram compensações noutros mercados: Marrocos e Alemanha. Neste último as vendas triplicaram em apenas seis meses. Progredindo de forma paulatina, neste ano esperam crescer entre 5 a 10%, comprovando o historial de “três, quatro, cinco anos a crescer muito e um ano de estabilidade”. Captura de ecrã 2016-06-23, às 14.54.59

Sendo que uma grande fatia da faturação advém de novos produtos lançados, a Paladin tem uma equipa de I&D, com cerca de dez pessoas, que todos os dias testa sabores diferentes para novos molhos. Visitámos o espaço onde, anualmente, são desenvolvidas cerca de 300 novas fórmulas e receitas que advém de ideias internas ou correspondem a parcerias ou a pedidos especiais de terceiros. Carlos Gonçalves admite: “muitas vezes temos dificuldade de acompanhar a nossa própria equipa”, já que tentam estar sempre a inovar e um passo à frente. Para tal, investem em formação e conhecimento das tecnologias mais avançadas e pretendem fomentar estágios de verão com universidades portuguesas e europeias.

Como uma das únicas três empresas agroalimentares portuguesas certificadas em inovação, a Paladin, além da Frulact e Imperial, teve bons resultados de I&D em 2015. Do total de 203 projetos desenvolvidos, 55 foram aprovados e 102 transitaram, isto é, foram readaptados ou inseridos no mercado. Apenas 46 foram anulados. Neste ano, surgiram assim 60 novos produtos, dos quais 55 molhos e cinco vinagres.

Para além de rigorosos testes e controlos microbiológicos, a aprovação de novos produtos também passa pelo laboratório de análise sensorial. Aqui, um grupo de pessoas, treinado para representar o mercado, prova os molhos criados no departamento de I&D de acordo com critérios definidos pela marca.

Depois de aprovadas, as fórmulas passam a integrar o portefólio de produtos da Mendes Gonçalves, iniciando-se o seu processo de produção.

Captura de ecrã 2016-06-23, às 14.55.05Na sala de pesagem, cada palete inclui os ingredientes definidos em cada uma das receitas (sempre secretas). Passa-se à sala de produção, com capacidade para produzir 12 toneladas de molhos por hora. Daqui seguimos para a sala de embalamento. Dois armazéns guardam cerca de dois mil rótulos, uma vez que todas as etiquetas são traduzidas para a língua mais usada no mercado a que se destinam os produtos. Chegando à zona de saída de mercadoria, esta é direcionada para o armazém, sendo, posteriormente, acondicionada no novo centro de logística do grupo. Localizado a apenas 500 metros da atual unidade industrial, representou um investimento de dois milhões de euros, e tornou-se essencial para poderem responder às crescentes solicitações do estrangeiro.

De acordo com o CEO da empresa, “na fábrica produzimos 1400 referências diferentes, na marca Paladin temos mais de 200, sendo que 54 são a gama base para Portugal, mas depois com todos aqueles que fazemos para outros países com embalamento e etiquetas diferentes, são mais de 200”.

Quando confrontado com a pergunta: de onde vem a matéria-prima para fabricar a multiplicidade de produtos que têm, o responsável assegura 80% é nacional. Contudo, reconhece algumas dificuldades em encontrar as restantes matérias-primas a preços competitivos, em particular pelo facto de Portugal estar na “ponta da Europa”. E acrescenta que os “governantes por vezes atrapalham”, seja pelo aumento dos combustíveis, seja pelo custo elevado da energia, fatores que encarecem os custos de produção de Captura de ecrã 2016-06-23, às 14.56.01commodities. Durante a visita, descobrimos ainda o segredo por detrás do produto mais abrangente da Paladin – os seus vinagres de topo estagiam em pipas de carvalho durante seis meses. E cada uma das máquinas de engarrafamento exclusivo de vinagre tem capacidade para embalar sete a oito mil garrafas por hora. Entre as várias cubas de vinagre, há algumas reservadas a produtos Kosher e Halal. A Paladin detém certificações para produzir alimentos de acordo com as leis judaicas e muçulmanas.

Todos os processos de produção estão informatizados e são geridos a partir de um sistema de gestão desenvolvido internamente.

No final, deparámo-nos com as tradicionais “tulhas de figo” que deram origem à Mendes Gonçalves. Carlos revela que, hoje em dia, a produção de vinagre de figo “não tem grande valor comercial, mas foi como começámos” e por isso é preservada a sua fabricação, pelo que são o único comprador de figo nacional.

Captura de ecrã 2016-06-23, às 14.55.45Após o lançamento do Vinagre de Tomate Ribatejano, a Paladin prepara-se para, em breve, colocar no mercado o Vinagre de Pera Rocha do Oeste e Vinagre de Maçã Bravo de Esmolfe. No entanto, o Ketchup à Portuguesa é o produto que tem sido mais promovido, visto que ganhou o Best New Fast Food Product and Innovation na exposição Gulfood Dubai, que decorreu nos Emirados Árabes Unidos em fevereiro deste ano. De acordo com Carlos Gonçalves, a premiação “resulta precisamente desta nossa irreverência, da nossa vontade de fazer diferente. Quem é que esperaria que uma empresa portuguesa, da Golegã, reinventasse um ketchup, que é talvez o produto mais vendido no mundo, mais básico e mais padronizado do mundo, e que, em vez de meter numa embalagem vermelha, metesse numa embalagem preta e que fosse dizer que era à portuguesa e vender no mundo inteiro e ganhar o primeiro prémio, onde estão os melhores do mundo!”.

Além da Paladin, o grupo também produz e embala múltiplas referências para outras marcas e detém ainda as insígnias Peninsular e Creative. A primeira está mais voltada para o canal horeca, enquanto a segunda inclui uma linha gourmet de vinagres de fruta, muito premiados, destinada a mercados mais evoluídos e até para chefes de cozinha.

Captura de ecrã 2016-06-23, às 14.55.51Neste momento a Mendes Gonçalves tem 250 colaboradores, sendo o maior empregador da Golegã. Sem nunca pensar sair desta região, a empresa, que começou familiar, profissionalizou-se e nos seus cargos de direção tem entre 30 a 35 pessoas que vieram de Lisboa e optaram por morar na Golegã, constatando que aqui têm uma melhor qualidade de vida.

Assumindo que a qualidade já é um dado adquirido, o objetivo da Paladin passará por estar constantemente a inovar e a surpreender entre a diversidade de produtos que tem e que terá muito em breve. E se a Paladin são os “Temperos de Portugal”, tendo sido a primeira marca de temperos a certificar os seus produtos com o selo PORTUGAL SOU EU, Carlos acredita que Portugal, e o mundo também, sabem cada vez mais a Paladin.

Confidenciou-nos ainda que se sente inspirado pela irreverência de Elon Musk, e afirma que “se há impossível, então é para nós”. Não havendo impossíveis para a Paladin, o “sonhador” revela um último desejo: construir uma fábrica de raiz que inclua uma unidade de I&D, uma de pequena produção e outra de produção em grande escala.

// www.mendesgoncalves.pt

O conteúdo Mendes Gonçalves: Sonhar, destabilizar e internacionalizar aparece primeiro em i9 magazine.

Comentários

comentários

PUB

Live Facebook

Correio do Leitor

Mais recentes

Passatempos

Subscreva a nossa Newsletter!

Receba notícias atualizadas no seu email!
* obrigatório

Pub

Este site utiliza cookies. Ao navegar no site estará a consentir a sua utilização. Saiba mais aqui.

The cookie settings on this website are set to "allow cookies" to give you the best browsing experience possible. If you continue to use this website without changing your cookie settings or you click "Accept" below then you are consenting to this.

Close