Sociedade

Loja de design sustentável abre portas em Chelas

A mais recente loja de design de Lisboa acaba de abrir portas numa zona improvável da cidade. O projeto reMix, dedicado ao design social e sustentável, abriu um novo espaço no bairro do Armador, onde estão expostas as peças produzidas pelos moradores
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A mais recente loja de design de Lisboa acaba de abrir portas numa zona improvável da cidade. O projeto reMix, dedicado ao design social e sustentável, abriu um novo espaço no bairro do Armador, onde estão expostas as peças produzidas pelos moradores. 

por Patrícia Maia
 

António Paulo garante que trabalhar na oficina do projeto reMix o ajudou a sair da depressão em que tinha caído depois de se juntar ao crescente número de desempregados de longa duração. António tem 48 anos. Cresceu na Casa Pia. Não tem contacto com os irmãos nem com as quatro filhas. Dos progenitores, a única coisa que sabe é que o seu pai já morreu. 

Há três anos, quando arrancou a primeira edição do projeto reMix, António não hesitou em enviar a sua candidatura. Foi selecionado e, desde então, fez deste projeto a sua segunda casa: “O meu horário é de três horas mas eu fico cá entre seis a oito horas, esqueço-me do tempo porque gosto do que estou a fazer. Além disso, o que é que estou a fazer em casa? A enferrujar?”.
 
António é ladrilhador e tinha já muita experiência em carpintaria e marcenaria. As suas competências não passaram despercebidas a Ângelo Campota, o coordenador do projeto reMix, que o recrutou para a equipa, entre centenas de candidaturas. “Quando começou o projeto, há três anos, recebemos mais de 300 candidatos, dos quais tivemos de escolher apenas cinco”, recorda o responsável ao Boas Notícias.

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António Paulo e Joaquim Lopes exibem o tabuleiro colorido feito de pedaços de estores, cujo conceito a equipa do reMix melhorou acresentando uma capa de acrílico transparente na superfície

Ao longo das três edições, a equipa do projeto já sofreu algumas alterações mas António é um elemento constante desde o primeiro momento. Ao lado do seu colega Joaquim Lopes, António passeia com orgulho pela pequena oficina, exibindo alguns dos objetos que construiu recentemente: um colorido tabuleiro feito com restos de estores, uma coluna de som revestida com restos de PVC e os candeeiros Horácio e Maria da Luz, criados a partir de sobras de chapas de impressão em ‘offset’. 


Um complemento financeiro para os colaboradores

Todas as peças são imaginadas por designers profissionais, ou estudantes de design, convidados pelo reMix, que recebem 250 euros pelo conceito, cedendo depois os direitos de venda. No entanto, o trabalho da equipa reMix não se confina à reprodução das peças. “As propostas são testadas por nós. Muitas vezes os objetos não funcionam, porque são demasiado frágeis ou pouco funcionais, e nós alteramos o que for necessário para melhorar o resultado final”, explica António.

O seu objeto preferido é uma original prateleira [na foto ao lado] que foi uma invenção totalmente sua. Trata-se de uma cadeira de madeira que foi, simplesmente, cortada ao meio e lacada. “Agora coloca-se a cadeira na parede e serve de prateleira”, diz António com orgulho. 
 
Graças a este trabalho na oficina de eco-design, António consegue juntar aos 130 euros mensais que recebe do rendimento mínimo, mais 150 euros, o valor da bolsa atribuído pelo projeto reMix. Além disso, os quatro colaboradores que atualmente trabalham na oficina distribuem, entre si, o valor das peças que são vendidas.

Novos serviços no projeto reMix
 
O projeto, lançado pela Associação Entremuros, já vai na sua terceira edição e todos os anos tem conseguido conquistar o apoio do programa autárquico Bip-Zip, destinado a bairros de intervenção prioritária. Mas a cada ano, o projeto traz novidades. 
 
No ano passado, por exemplo, para aumentar a sustentabilidade do projeto, o reMix introduziu um serviço que assenta na prestação de serviços com colaboradores recrutados entre os habitantes do bairro. “Se alguém precisar de arranjar uma persiana ou um móvel de casa ou se precisar de uma costureira, pode contactar a associação para que envie um trabalhador”, explica Ângelo Campota. 

Metade dessas receitas ficam para os colaboradores externos que fazem os serviços e o restante é investido na associação. Ângelo Campota garante que a ideia funciona: a EGEAC, através do Teatro Maria Matos, é uma das entidades que já recorreu a estes serviços.
 
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Algumas das peças em exposição na nova loja reMix, incluindo o candeeiro Maria da Luz, construído a partir de placas de 'offset'

Este ano, a grande novidade é a inauguração da loja reMix, que abriu portas no início do mês, mesmo ao lado da oficina, no Bairro do Armador (Rua Bento Gonçalves, 721). “O objetivo é trazer as pessoas até à raiz e à origem das peças, queremos que as pessoas conheçam quem está por detrás da sua construção”, diz Ângelo. 
 

“Pretendemos também, através da exposição das peças, dinamizar talvez outro tipo de negócios como o aluguer de objetos de decoração para produções de cinema e televisão”, acrescenta o coordenador. Ângelo sublinha que a visita à loja é muito simples e segura já que o espaço fica a poucos passos da saída do metro da Bela Vista. 

Projeto está a ser ampliado ao bairro da Pena

A Associação Entremuros tem por objetivo colmatar algumas falhas de bairros carenciados, nomeadamente através da promoção de atitudes cívicas e de um maior espírito de partilha. No bairro do Armador, esse esforço foi concretizado através do eco-teatro, das Brigadas de Rua e deste projeto de eco-design. 



Exterior da loja no dia da inauguração que contou com a atuação de DJs

Contudo, a oficina foi o projeto que ganhou mais protagonismo, dentro e fora do bairro. O sucesso da iniciativa vai permitir o crescimento do projeto reMix que, este ano, vai ser alargado ao bairro da Pena (Arroios), onde já estão a dar formação a cinco moradores seniores.

O segredo do sucesso é simples, diz Ângelo, que sonha levar a ideia a mais zonas da cidade: “este projeto beneficia os bairros, os designers, as lojas e quem compra porque são produtos únicos”.

Clique AQUI para consultar o catálogo do projeto reMix.

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