Sociedade

“Devemos ensinar as crianças a viver com o que têm”

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Depois do lançamento do livro “O pequeno ditador”, o espanhol Javier Urra regressou a Lisboa para apresentar o seu mais recente livro: “Prepara o teu filho para a vida”. Em entrevista ao Boas Notícias, este psicólogo que colaborou com a UNICEF, defende que o principal dever dos pais, em relação aos filhos, é “transmitir que educam para que aquele ser saiba viver a sua vida, ser independente, ser livre e lidar com essa liberdade”.

Como deve um pai preparar uma criança para enfrentar os primeiros desafios da vida?

Em psicologia evolutiva essa é uma questão muito estudada. Uma criança, desde tenra idade, tem que saber que o mundo não gira à sua volta, que a frustração é uma realidade. A vida tem muito para nos oferecer, mas a vida não é justa. Devemos transmitir que nem sempre vamos conseguir dos outros o que queremos, e que a nossa própria imagem também não é interpretada pelos outros como nós queremos.

Portugal, Espanha e Grécia estão a passar por dificuldades económicas, pois eduquemos as nossas crianças ensinando-lhes o que é a austeridade. Não é fácil, mas se os pais o conseguirem terão uma criança generosa.

Por outro lado, os pais devem ensinar os filhos a partilhar, a ser altruístas. Devemos ensinar as crianças a ter a noção de que, se têm quatro brinquedos, podem dar um deles a uma criança que não tem. Educar passa por estas pequenas coisas. 

Como se mostra à criança que “o mundo não gira à sua volta”?

Por exemplo, quando a criança quer convidar todos os seus amigos para a festa de aniversário, os pais devem explicar apenas o que podem pagar… A criança não deve exigir o que quer, mas sim o que se pode dar.

Outro exemplo: Quando se diz à criança que vamos ver os avós e a criança recusa. A pergunta que se coloca à criança não deve ser se ela quer mas se acha que devemos visitar os avós e explicar porque o devemos fazer.

A partir de que idade se deve preparar a criança para estas noções?

Esta noção deve estar presente mesmo antes da criança nascer, porque tudo depende muito do pai, da mãe e da forma como a criança é recebida. Os pais devem pensar previamente se querem que os filhos frequentem um colégio público ou privado, um ensino religioso ou não religioso, que papel vão desempenhar os avós, se a casa vai estar aberta a amigos, se vão incutir a prática do desporto, como irá a criança ocupar os tempos livres…

Há muitos pais que  se assumem como amigos dos filhos. Como é que vê esta noção de alguns pais?

Os filhos têm que ter os seus próprios amigos, há espaços distintos. Mas os pais têm que saber quando algo corre mal e os filhos têm que sentir que podem contar com os pais. Não nos devemos esquecer de uma coisa: amigos há muitos, mas pais só existem aqueles.

Numa altura de crise em que os pais têm de reduzir os bens materiais que dão aos filhos, que devem os pais fazer para transmitir às crianças a noção de poupança?

Eu penso que a austeridade é boa: devemos ensinar as crianças que uma coisa é o que vale, outra coisa é o que custa. Por exemplo, para mim que vivo em Madrid, chegar a Lisboa e ver o mar é algo imperdível, e nada paga essa sensação.

Hoje em dia com a publicidade que se vê na televisão a criança tem a ideia de que tudo se compra. Mas não é assim, não se pode comprar a morte, a saúde e isto uma criança tem que saber captar. A criança tem que saber adaptar-se… Daí que a austeridade seja boa, para as pessoas aprenderem a viver com o que têm.
 
Os adolescentes de hoje passam muito tempo nas redes sociais e na internet relacionando-se com os amigos virtualmente. Que implicações terão estas vivências quando se tornarem adultos?

Acredito que não existe nenhum inconveniente em utilizar as novas tecnologias para comunicar, desde que a utilização não seja exagerada e de que não se perca o contacto com o exterior, isto é, o ser humano é um animal, precisamos do contacto, de estar próximos. Por outro lado, os pais têm que conhecer o mundo dos filhos. É importante que exista uma grande comunicação e ter muito cuidado com o mundo dos excessos, da adição (que passa não só pela internet, mas pelo álcool, pelas drogas).
 
E a presença dos irmãos?

Com os irmão deve-se partilhar, brincar, discutir, conviver e cooperar. Isto é o bonito da vida. A vida é qualidade, é intensidade.

As crianças de hoje vão crescer. Como serão os adultos de amanhã?

Essa pergunta é muito importante, mas eu não sei como serão os futuros adultos. Creio que estamos a educar crianças que têm uma ideia muito ampla do mundo, que encaram o mundo sem barreiras, sem fronteiras, um mundo que julgam ser global.

Acabaram as guerras mundiais, caiu muro de Berlim… Creio que os jovens vão enfrentar muitos dilemas éticos: que fazer com os psicopatas, que limites impôr à medicina, entre outros. Vamos ter que preparar os nossos filhos para saberem lidar com a dúvida, com o conflito, para saberem movimentar-se numa sociedade que está sempre em mudança.

No futuro temos que ter muita criatividade, muita capacidade de adaptação e muito pensamento alternativo. Há também que encarar o futuro relativizando e recorrendo ao sentido de humor. Por outro lado, é muito importante a capacidade de respeitar o outro, há que ter a consciência de que eu sou eu e tu és tu.

Nos dias de hoje quais são os principais critérios que devemos passar a uma criança?

Que amamos a criança, é sobretudo isso, mas também o respeito, a diferença. Transmitir que estamos presentes, que existe um vínculo. O contacto com a natureza também é muito importante, a prática de desportos e o respeito entre as gerações.

Devemos transmitir que estamos a educar para que aquele ser seja uma boa pessoa, que sabe viver a sua vida, que sabe ser independente e lidar com essa liberdade. Por outro lado, incutir desde cedo que somos responsáveis pelos nossos atos. ANA SILVA

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